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Turismo conta aumentar receitas este ano, mas reduzido poder de compra dos portugueses preocupa o sector

O turismo em Portugal está com níveis de procura elevados, mesmo prevendo um aumento de preços. Ingleses estão a reagir bem e alemães voltaram a “reservar em massa”. Mas é um ano que o sector vê “com muita cautela”

Com todas as reservas pela turbulência atual que agita o mundo, o turismo em Portugal apresenta, para já, sinais de poder atingir este ano os mesmos níveis de procura de 2022, prevendo-se até um aumento de receitas. E o sector irá continuar em 2023 com uma “impressão digital forte" na economia, segundo antecipa ao Expresso Bernardo Trindade, presidente da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP).

“Dos 6,7% que o PIB cresceu em 2022, o contributo do turismo foi muito significativo. Este ano, as previsões de crescimento da Comissão Europeia e do Banco de Portugal são bastante mais limitadas, mas o turismo irá continuar na linha da frente dessa recuperação”, prevê o presidente da AHP, precisando que “o contributo que o turismo dará em 2023 poderá não ser tão elevado como em 2022, mas ainda assim será muito importante”.

O presidente da associação hoteleira frisa que “temos de ser realistas” e ter em conta que se trata de um ano turístico em conjuntura difícil, que afeta diretamente “o rendimento disponível das famílias, sobretudo para o mercado nacional”. E sem esquecer que o crescimento dos turistas portugueses tem dado um contributo significativo aos resultados do sector, sobretudo desde os anos da pandemia.

“Temos hoje três impactos significativos no rendimento das famílias: a fatura energética, o aumento das taxas de juro, que tem impacto no crédito à habitação e também nas rendas, e o aumento de preços na cadeia alimentar”, enumera Bernardo Trindade. “Com tudo isto a subir, e a impactar no poder de compra das famílias, haverá naturalmente restrições ao nível da procura de lazer”.

As reservas nos hotéis nacionais “estão muito em linha com as ocupações de 2022, com uma ligeira melhoria a nível de preços”, segundo o presidente da AHP

As reservas nos hotéis nacionais “estão muito em linha com as ocupações de 2022, com uma ligeira melhoria a nível de preços”, e segundo o presidente da AHP a hotelaria precisa mesmo de elevar as receitas para fazer face ao aumento de custos salariais ou da fatura energética. Frisa também que, para o turismo, será um ano com “vários momentos”.

“Vamos ter um primeiro trimestre muito bom na generalidade do país, com preços médios e taxas de ocupação melhores que 2022, porque compara com um período em que enfrentávamos a última vaga da variante ómicron”, explicita Bernardo Trindade.

Turistas dos EUA e Brasil a crescer

O destaque vai para turistas dos Estados Unidos e do Brasil, “que estão com uma procura muito interessante, sobretudo nestes meses de janeiro e fevereiro, que coincidem com as férias grandes no hemisfério sul”. São também turistas que fazem mais marcações diretas nas unidades hoteleiras, e menos em plataformas, o que permite “melhores receitas, por não se pagar comissões”.

Em relação ao segundo trimestre, a partir de abril “o crescimento poderá não ser tão acentuado, como foi em 2022, porque já compara com um período forte do que foi o melhor ano de sempre”, nota Bernardo Trindade, lembrando que a Páscoa do ano passado “foi um momento de viragem” em relação às restrições da covid e aos longos confinamentos.

“Face à tragédia que ocorreu na Turquia, um forte concorrente nosso, é natural que mercados como o alemão dirijam as suas opções para zonas longe deste território, onde as pessoas não se sentem seguras”, refere o presidente da associação hoteleira

“Face à tragédia que ocorreu na Turquia, um forte concorrente nosso, é natural que mercados como o alemão dirijam as suas opções para zonas longe deste território, onde as pessoas não se sentem seguras”, refere o presidente da associação hoteleira.

“Não há nada que indique que tenhamos menores resultados esta Páscoa. Poderão não ser tão possantes como no ano passado, mas serão previsivelmente bons”, refere o presidente da AHP, frisando que, no geral, é de esperar em 2023 “uma consolidação” dos resultados turísticos de 2022, “mais em preços que ocupações”, embora seja um ano que tem de ser visto “com muita cautela”.

Alemães a regressar “em força” à Madeira e ao Algarve

Notícias positivas estão a vir do lado dos turistas da Alemanha, que “reagiram em massa” a fazer reservas no Algarve e na Madeira assim que tiveram respostas no seu país quanto à estabilização da fatura energética, em janeiro.

“Os alemães são sempre os mais tardios a tomar decisões de lazer, e sentimos que estão a regressar em força, a Tui Alemanha está com uma evolução muito significativa em relação ao ano passado. Os alemães, sempre que surge uma ameaça, recuam, o que já não acontece no mercado inglês, por exemplo”, nota Bernardo Trindade.

“E um tema incontornável é a tragédia que ocorreu na Turquia, um forte concorrente nosso, e que até tem liberdade cambial para baixar os preços. É natural que o mercado alemão, que tem lá uma forte presença turística, venha a dirigir as suas opções para zonas longe deste território com forte pendor sísmico, e onde as pessoas não se sentem seguras”, conclui o responsável da AHP.

Algarve já com 30% das reservas para o ano todo

Do Algarve, já chegam sinais animadores. “Algumas unidades já têm mais de 30% das reservas do ano em carteira, o que é de assinalar porque nos últimos anos a tendência é reservar mais em cima do período de férias”, adianta João Fernandes, presidente da Entidade Regional de Turismo do Algarve.

“Atendendo ao feedback dos vários subsectores, como rent-a-car, golfe ou marinas, além do alojamento, o que perspetivamos é um crescimento ao nível da procura, sobretudo externa, para o Algarve face a 2022, e também no volume de negócios”, refere o responsável da região de turismo.

“O primeiro trimestre terá melhor desempenho que 2022, porque compara com um período de vaga pandémica”, nota João Fernandes, frisando que a expectativa este ano aponta para um crescimento fora da época alta.

Nos vários subsectores turísticos, não só nos hotéis, "perspetivamos um crescimento de procura, sobretudo externa, para o Algarve face a 2022, e também no volume de negócios”, adianta o presidente da região de turismo

Nos vários subsectores turísticos, não só nos hotéis, "perspetivamos um crescimento de procura, sobretudo externa, para o Algarve face a 2022, e também no volume de negócios”, adianta o presidente da região de turismo

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Em janeiro, a ocupação dos hotéis foi a maior dos últimos 20 anos, segundo a Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA). A taxa de ocupação por quarto atingiu 36,9% no primeiro mês, numa subida de 11,7 pontos percentuais em relação a 2022.

“Tivemos o melhor janeiro de sempre, o que é um indicador muito bom, e tem a ver com as unidades que estão abertas. No último fim-de-semana houve um grande movimento no aeroporto, com chegadas de golfistas com crianças, devido às férias escolares no Reino Unido. Acredito que poderemos ter um ano não muito longe de 2022, não será o boom total que ocorreu no ano passado, a nossa expectativa é positiva, mas com moderação”, resume Helder Martins, presidente da AHETA.

Espanhóis esperados no Carnaval, Páscoa com ocupações idênticas a 2022

Para o Carnaval, “a expectativa é que o Algarve terá uma mexida, não brutal, sobretudo em zonas onde há animação carnavalesca. O mercado espanhol é muito importante nesse período, mas é um fim-de-semana normal, pois muitas pessoas trabalham na segunda-feira”.

A Páscoa já marcará “o arranque para o resto do ano, em que toda a oferta do Algarve já estará disponível, e espero chegarmos a níveis próximos do ano passado”, adianta o presidente da associação hoteleira. As ocupações nos hotéis algarvios atingiram 63,4% no fim-de-semana da Páscoa em 2022, mais 14,8% face a 2019.

Helder Martins frisa que persistem fatores incertos, com a conjuntura que se vive. “Uma das nossas preocupações é a recessão em Inglaterra, mas parece que os ingleses, até em crise, viajam na mesma”, exemplifica.

“Uma das nossas preocupações é a questão da recessão em Inglaterra, mas parece que os ingleses, até em crise, viajam na mesma”, refere o presidente da AHETA

Se os dados das reservas para 2023 são de momento positivos, o presidente da Região de Turismo do Algarve adverte que não são um dado adquirido. “Estamos otimistas, mas cautelosos, e é preciso dar muita atenção a fenómenos que não podemos prever”, afirma João Fernandes.

Alerta para greves na aviação em 2023

Um dos alertas vai para a possibilidade de “haver greves em companhias aéreas e aeroportos, que podem ser precalços que tornarão mais difícil o desempenho elevado” que o setor prevê. “Estamos otimistas com o nível de reservas, mas poderá haver uma série de constrangimentos, até no tráfego aéreo”, indica João Fernandes, apontando que “o maior dos constrangimentos identificados é a falta de recursos humanos, embora a situação esteja melhor com as empresas a procurarem soluções de alojamento para os trabalhadores”.

Este ano “também já não beneficiamos do nível de poupança familiar elevado, das reservas adiadas no período de covid ou do consumo de revolta do pós-confinamento”, aponta o responsável.

Os constrangimentos estendem-se à situação económica dos principais mercados emissores. “Apesar das notícias recentes dando conta de que o Reino Unido e Alemanha evitarão eventualmente uma recessão, os efeitos da inflação irão degradar o poder de compra, tornando a escolha do destino de férias mais sensível do ponto de vista de preço”.

“A instabilidade de outros destinos poderá beneficiar este ano o Algarve, que construiu uma imagem de destino seguro para famílias, mas não gostamos de beneficiar do mal dos outros", frisa o presidente da região de turismo algarvia.

“Apesar de os preços terem vindo a acompanhar a inflação, o Algarve continua a ter vantagem competitiva e uma melhor relação value for money quando comparado com destinos concorrentes do sul da Europa”, salienta João Fernandes.

“Nas feiras internacionais de inverno a que temos ido, operadores turísticos e companhias aéreas são unânimes em avançar que o Algarve será uma escolha privilegiada, sobretudo para mercados do norte da Europa, face à instabilidade que se vive no globo, como inflelizmente a guerra na Ucrânia ou a calamidade recente na Turquia”, realça o presidente da região de turismo.

“A instabilidade de outros destinos poderá beneficiar a Península Ibérica, em particular o Algarve, como destino de férias este ano”, constata João Fernandes. “O Algarve e Portugal construiram uma imagem de destino seguro para famílias, e não gostamos de beneficiar do mal dos outros. Infelizmente, as preocupações na Turquia de momento são outras, e mais graves”.

in Expresso, por Conceição Antunes

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