A partir de junho reabrem 75% dos hotéis em Portugal mas com uma “gigantesca” previsão de perda de receita
Para a próxima semana, com dois feriados, uma série de hotéis prepara-se para reabrir, com novas medidas sanitárias e menos quartos. Veja alguns dos que reabrem, do norte ao Alentejo e Algarve
Os hotéis portugueses preparam uma primeira vaga de reaberturas em junho e, sobretudo, na próxima semana, que inclui dois feriados, após terem encerrado em março em pleno período do estado de emergência devido à pandemia da covid-19. Cerca de 75% dos hotéis em todo o país vão voltar a abrir as portas em junho e julho, embora com muito menos quartos disponíveis, segundo um inquérito recente da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), em que já se avança a previsão de que as taxas de ocupação não irão além de 30% até ao final de 2020.
Abrir ou não abrir, quando e onde, tem sido o dilema com que se debatem os hotéis. Em abril, 80% das unidades fecharam com a crise do vírus, e em maio a taxa de unidades encerradas já baixou para 72%. "A expectativa dos feriados de junho está a ser muito importante para a reabertura dos hotéis e já é sinal de uma descida de pessimismo no sector, mas os hotéis estão prudentes e realistas e não vão abrir com toda a capacidade instalada, o que significa que não vão estar a trabalhar em pleno, 70% a 80% vão funcionar com capacidade mais reduzida", frisa Cristina Siza Vieira, presidente executiva da AHP.
"Em junho, diminuiu substancialmente o número de hotéis fechados, mas os hotéis vão reabrir com uma fortíssima redução da capacidade instalada, o grosso da oferta não vai abrir em pleno", salienta a responsável da associação hoteleira, adiantando que a perspetiva de reaberturas dos hotéis segue em crescendo nos meses que se seguem ao verão. Já em junho, estarão abertos 72% dos hotéis nacionais, mas com um número reduzido de quartos, embora mais de metade prevejam a partir de julho e até ao final do ano ter a capacidade total a funcionar.
O resort Pine Cliffs reabre no Algarve a 6 de junho, com a opção de vilas em casas privadas e em alternativa aos quartos de hotel
D.R.
As perspetivas inicialmente mais negras dos hoteleiros vão-se tornando mais otimistas à medida que o tempo passa e as atividades vão desconfinando. "Há alguma expectativa de que o ano não seja tão negativo como se esperava para os hotéis, mas ainda assim a preverem-se quebras nas taxas de ocupação entre 50% e 80%", sublinha Cristina Siza Vieira.
Turistas estrangeiros estão a fazer reservas nos hotéis nacionais
Para o verão, já há "alguns sinais de vida" relativamente a turistas estrangeiros, que nesta altura começam a mexer-se para fazer reservas nos hotéis nacionais. Se os portugueses ainda assumem a maior fatia das reservas já feitas, de 34,7%, os hotéis também já as receberam de cidadãos britânicos ou espanhóis, os principais mercados, mas também de franceses e alemães. "Outros mercados, como Bélgica, Suíça e Itália, estão a aparecer timidamente, mas ainda assim no radar dos que estão a efetuar reservas", nota a responsável da AHP, frisando que o cenário está a mudar rapidamente, de dia para dia, e, "em maio, 90% dos hotéis não tinham quaisquer reservas, ou estas não iam além de 20%".
Os hotéis vão navegando à vista para decidir as reaberturas, acompanhando o dinâmico processo do levantar de restrições nas fronteiras e sem certezas no horizonte. "As perspetivas já não são tão negativas como inicialmente se admitiam. Mas no verão, mesmo com melhores reservas, não vamos ter uma retoma efetiva", adverte Cristina Siza Vieira. "Há uns balões de oxigénio que se avistam para o país e, se tudo correr de feição, o último trimestre pode abrir o caminho a alguma recuperação. Mas vai ser um ano perdido para a hotelaria e só em 2021 poderemos ver uma retoma séria".
Nas reaberturas, os hotéis vão precisar de pessoal e estão a tomar decisões relativamente ao regime de 'lay off', designadamente com a alteração da suspensão de contrato de trabalho pela redução de horário. A AHP enfatiza que 90% das empresas recorreu ao 'lay off simplificado', o que ajudou a que 99% dos hotéis não tivessem feito despedimentos por causa da crise da covid-19, embora 25% tenham dispensado "colaboradores em regime experimental" e 36% não tivessem renovado contratos a termo.
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D.R.
"O grosso das empresas, 65%, recorreu logo em abril ao 'lay off' pelo período máximo de três meses. Mas a maioria, de 75%, estimam agora alterar o regime dos trabalhadores e passar da suspensão de contratos para a redução de horários de trabalho, para planear as reaberturas", explica Cristina Siza Vieira, frisando a importância de manter o 'lay off' simplificado para os hotéis: num ano em que são fustigados com quebras de receitas, não vão funcionar em pleno e não precisarão do pessoal a tempo inteiro.
"Não vai haver saldos nos hotéis", e quatro mil têm o selo 'Clean & Safe'
Quanto a preços, os hotéis adiantam a intenção de os manter relativamente ao que era habitual, mas 40% admitem que poderão vir a avançar com reduções nas tarifas, que não deverão ir além de 20%.
"Não vai haver saldos na hotelaria, com Black Fridays todos os dias", garante Cristina Siza Vieira, frisando haver lugar a que os hotéis façam "promoções de última hora, campanhas de 'faça mais por menos' ou 'upgrades', além de tudo o que são ferramentas saudáveis para fazer ajustes de preços, que vão ser necessários atendendo a que os portugueses vão ser o principal mercado". E reitera que, se "em março houve um período de saldos nos hotéis, daqui para a frente a intenção não é a de baixar os preços".
Nestes novos tempos, 99% dos hotéis vão ter o selo 'Clean & Safe' do Turismo de Portugal, garantindo ter medidas de prevenção da covid-19, o que, para dar confiança aos turistas, "tem uma força brutal, também por ser emitido por uma autoridade turística", conforme frisa Cristina Siza Vieira, destacando a importância de o país ter quatro mil empreendimentos turísticos com este selo.
Os custos extra para os hotéis portugueses com as novas medidas sanitárias que estão a adotar para combater a covid-19 atingem em média €3810 por mês, o equivalente a €40 por quarto, segundo apurou a AHP no recente inquérito. "Só com estes custos extra em higiene e segurança, cada hotel fica com uma despesa acrescida de €50 mil por ano, e isto é só a média, há hotéis que estão a gastar €10 mil por mês em medidas sanitárias", faz notar Cristina Siza Vieira.
Neste campo, há muitas variações de hotel para hotel a nível de detalhes, apesar de o quadro de regras da certificação 'Clean & Safe' apontar regras comuns, mas também recomendações que não são obrigatórias. "Há cadeias que não vão medir a temperatura aos clientes, enquanto outras vão, umas fazem-no no balcão de 'check in' e outras no exterior: há variações, mas o que é importante é que haja um procedimento", sublinha a presidente-executiva da AHP.
Ao reabrir, o principal obstáculo que os hotéis veem pela frente é "o medo das pessoas em viajar", a par das condicionantes ao transporte aéreo, e só em último lugar vêm as restrições nas praias. E funcionar com menos ocupação e mais custos vai trazer uma fatura pesada a nível de receita.
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"Há uma previsão gigantesca de perda de receita da hotelaria em 2020, que oscila entre 60% a 89% no total do ano", salienta Cristina Siza Vieira. Segundo cálculos da AHP, num cenário de quebras de 70% no ano inteiro as "receitas perdidas" da hotelaria nacional atingem €3,2 mil milhões, e elevam-se a €3,6 mil milhões considerando um cenário ainda mais gravoso, com quebras de 80%.
Hotéis oferecem custos da viagem ou recebem crianças de graça
Já a 5 de junho, há uma remessa de hotéis que vão reabrir, aproveitando a semana com feriados. É o dia em que o grupo Pestana reabre 10 dos seus hotéis e Pousadas de Portugal, de que é concessionário, na perspetiva de recolocar na operação mais 10 unidades em julho. Os hotéis que vão reabrir são o Pestana Cascais, além do Alvor South Beach, o Vicking e o D. João Villas no Algarve, a que se somam as Pousadas de Viana do Castelo, Ria de Aveiro, Alcácer do Sal, Sagres, Valença e Bragança.
Os hotéis vão ter novas normas de higiene e distanciamento social, os restaurantes funcionam por marcação e têm disponível 'take away', e, no caso das Pousadas de Portugal, é proposto a famílias grandes a reserva de todo o espaço, para terem maior privacidade. Para os profissionais de saúde, "que desde o primeiro momento têm estado na linha da frente a combater a pandemia", há uma campanha especial nas Pousadas com descontos de 50%.
Também o hotel Conrad, na Quinta do Lago, no Algarve, vai reabrir a 5 de junho, disponibilizando piscinas, restaurantes, bares e também massagens no spa, mas frisando ter o selo 'Clean & Safe' e um programa global de limpeza e desinfeção que ainda vai mais longe. O restaurante "Gusto", com uma estrela Michelin, vai reabrir a 7 de julho, e quem quiser ir até à praia pode contar com um 'shuttle' disponibilizado pelo hotel, que promete ser "um refúgio elegante", cumprindo "todas as exigências de higiene e segurança".
No Alentejo, também há hotéis a reabrir a 5 de junho na expectativa da semana dos feriados, como é o caso da Herdade dos Delgados, em Mourão, junto às águas do Alqueva, que promete ter espaço para as famílias estarem em tranquilidade. Neste regresso tem atividades especiais, como a observação de estrelas. A Herdade da Barrosinha, em Alcácer do Sal, é outro dos que reabrem já a 5 de junho, à semelhança de mais hotéis em outras regiões, como é o caso do Sesimbra Hotel & Spa.
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António Chaves
No sábado, 6 de junho, é a vez de reabrir o Pine Cliffs no Algarve. No resort com uma área de 72 hectares, os hóspedes podem optar por ficar numa vila com piscina, jacuzzi e 'barbecue' privados, em moradias ou apartamentos, em alternativa aos quartos do hotel. As esplanadas dos restaurantes foram ampliadas e a área de concessão na praia da Falésia foi "aumentada e redesenhada" de acordo com as novas normas, tendo disponíveis camas, espreguiçadeiras ou chapéus de sol. O resort assume voltar à operação "de forma faseada". Para já, terá disponíveis quatro restaurantes e frisa ter "inovadores equipamentos de desinfeção garantindo a eliminação total de vírus e bactérias".
A 9 de junho, a Vila Galé reabre 11 dos seus hotéis que estiveram fechados. No Algarve, vão voltar a receber hóspedes os hotéis Albacora, em Tavira, o Ampalius, em Vilamoura, o Atlântico, em Albufeira e o Vila Galé Lagos - e no Alentejo o Clube de Campo em Beja e o hotel em Alter-do-Chão que foi finalizado em plena crise da covid-19 e nunca chegou a ser inaugurado. Também vão reabrir os hotéis Vila Galé em Cascais e na Ericeira, a par do Collection Douro, em Lamego, e a nova unidade em Manteigas, outro hotel que ficou por inaugurar por ter sido concluído já a apanhar os tempos da pandemia.
O Sesimbra Hotel & Spa esteve fechado e reabre a 5 de junho com novas normas sanitárias
Antonio Chaves
O hotel Porto Bay Falésia, no Algarve, em Olhos de Água, é outro dos que se preparam para reabrir a 9 de junho, mas com a capacidade reduzida a um terço, só a pensar em receber portugueses e com diárias promocionais de €139 em quarto superior. Além do selo 'Clean & Safe', o grupo criou um comité interno responsável por um plano de ações na área de saúde e pondera, também, reabrir o Porto Bay Liberdade em Lisboa e PortoBay Flores no Porto a 1 de julho.
Nesta fase, os hotéis multiplicam-se em promoções originais para aliciar os portugueses. O hotel Magnolia, inserido no resort da Quinta do Lago, vai reabrir a 22 de junho, oferecendo o custo da viagem até ao Algarve - e frisando que "não importa se vem desde Lisboa ou Bragança" - aos hóspedes que ficarem três ou mais noites, até 31 de agosto, numa forma de "incentivar os portugueses a fazer férias na região do Algarve". O valor da viagem é revertido num 'voucher', que pode ser utilizado em consumos no restaurante e bar do hotel. Crianças até 12 anos têm estadia e refeições gratuitas, e também é incentivado que se traga um animal de estimação, sem custos extra.
Metade dos quartos vão ter acesso direto, à chegada há um serviço de lavandaria para a roupa usada em viagem e que é entregue no próprio dia, garantindo hotel ter "um sistema inovador de desinfeção através de um pulverizador eletrostático de todos os quartos e superfícies".
Uma renovação de hotel para a covid-19 que custou €3,5 milhões
Mais longe ainda nas medidas sanitárias, foi o hotel Onyria Quinta da Marinha, em Cascais, que vai reabrir a 9 de junho após ter feito uma remodelação de fundo para se adaptar aos novos tempos e o pós-pandemia, que envolveu quartos novos e investimentos globais de €3,5 milhões.
A 9 de junho, reabre o Vila Galé Lagos, entre 11 outras reaberturas da marca em várias regiões do país
Tiago de Paula Carvalho
A partir de 2 de junho, a Solverde prepara reaberturas faseadas dos seus hotéis, primeiro com as unidades de Espinho e de Vila Nova de Gaia, a 5 de junho com o Hotel Casino de Chaves, e a 9 de junho com o Hotel Algarve Casino. As datas específicas de reaberturas estão a variar bastante consoante as decisões das cadeias e, por exemplo, o Calheta Beach da Savoy, na Madeira, volta a funcionar a 9 de junho, e o Oitavos, na Quinta da Marinha, em Cascais, a 19 de junho.
Há hotéis que se anteciparam relativamente à semana dos feriados de junho, e o grupo NAU reabriu a 31 de maio dois hotéis no Algarve, o São Rafael Atlântico e o Dunas Suites, e neste regresso já recebeu grupos de turistas do Luxemburgo.
A 29 de maio, já reabriram no Douro o Vintage House e o hotel vínico The Yeatman, com medidas apertadas anti-covid e prometendo aos hóspedes momentos de descanso e em segurança. O movimento de reaberturas estende-se a hotéis mais pequenos, como a Casa da Calçada, em Amarante, que voltou a receber clientes a 1 de junho.
Em julho, há mais hotéis na calha para reabrir, como é o caso do Santa Bárbara, nos Açores. Em cidades como Lisboa, as reaberturas dos alojamentos perfilam-se ainda incertas, mas há hotéis, como o Marriott, que já o planeiam fazer a 1 de julho.
in Expresso, por Conceição Antunes