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Portugal a caminho dos 23 milhões de turistas

É para continuar a crescer, mas sem o fulgor dos últimos anos. Portugal vai ter mais turistas, mas deve concentrar-se, sobretudo, em ganhar mais com cada um deles, diz o sector.  
 
O mercado britânico é uma preocupação, numa altura em que se busca um novo recorde.  
 
Só em Fevereiro se saberá se Portugal passou a barreira dos 22 milhões de turistas em 2017. Até lá, o sector já trabalha para um novo recorde: o dos 23 milhões.  
 
"É possível", traça Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo Português (CTP). A visibilidade ganha nos World Travei Awards - vulgarmente conhecidos como os Óscares do Turismo - e a organização da Eurovisão poderão contribuir para alcançar essa meta.  
 
"Se nada de anómalo acontecer, 2018 vai ser mais um ano de crescimento", remata. De Janeiro a Novembro do ano passado, Portugal registou cerca de 19,5 milhões de hóspedes (+9%) e 55 milhões de dormidas (+7%).  
 
O líder da CTP não renova para este ano o ritmo de crescimento de 7% para as dormidas: com uma base de comparação maior, acredita que "5%sãofaciImenteexequíveis".Apesar de ser necessário procurar "estadas mais longas" para fazer face ao "travão" que é a lotação do aeroporto de Lisboa, diz.  
 
Nas agências de viagens também se prevê melhorias no turismo nacional. "A minha expectativa é de que continuemos a crescer", fraca Pedro Costa Ferreira.Contudo,opresidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT) - à semelhança do líder da CTP - admite que esse ritmo possa vir a abrandar.  
 
"Não se pode exigir o mesmo crescimento ao nível dos turistas e das receitas", resume. O foco deve estar agora em fazer com que os turistas que visitam Portugal paguem mais pelos serviços que aqui encontram. A maior afluência dos mercados brasileiro e norte-americano, conhecidos por gastarem mais, pode ajudar.  
 
Nesta fase, a "maior dúvida" é o mercado britânico, dizem a CTP e a APAVT. O fim da Monarch e a instabilidade na operação da Ryanair contribuíram para que esta nacionalidade, a principal a visitar Portugal, tenha vindo a perder peso. Ainda assim, em 2017, registou-se uma evolução positiva perto dos 2%, que o sector olha agora com preocupação perante as indefinições do Brexit e a constante desvalorização da libra.  
 
Hotéis optimistas com 2018  
 
Num inquérito da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), realizado em Dezembro, apenas 6% dos inquiridos acreditavam que o Brexit teria um impacto negativo na sua actividade. Nesse mesmo estudo, os hoteleiros mostravam-se confiantes numa melhoria dos diferentes indicadores em 2018. Com uma única excepção: a estada média.  
 
Num ano em que vão abrir quase 70 hotéis, os grupos ouvidos pelo Negócios mostram-se confiantes numa melhoria da operação. José Roquette, administrador do grupo Pestana, reconhece que é "inevitável que venhamos ater um ciclo de abrandamento ou crescimento não tão rápido". Todavia, crê, não se devera sentir nos próximos dois anos.  
 
Mais contido é Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador do grupo Vila Galé. Num ano em que terá três aberturas, o grupo espera um crescimento nas receitas "na ordem dos 5% ou 6%", abaixo dos 13% de 2017.  
 
Portugueses a viajar mais  
 
"Nunca há turismo numa só direcção. Um país cosmopolita não se faz só à custa do turismo, mas também da internacionalização e da globalização", conta Pedro Costa Ferreira. Por isso mesmo, éimportanteque os portugueses viagem dentro e fora de portas. A estimativa do líder da APAVT é de que as viagens dos portugueses para o estrangeiro possam aumentar cerca de 10%, tendo em conta as "novas operações que estão a ser colocadas no mercado".  
 
"Não é completamente irrealista pensar que vamos continuar com esse crescimento", remata. Há uma explicação: a confiança dos consumidores estáemníveiseIevados.E, quando tal acontece, maior é a vontade para ir conhecer o mundo.  
 
Falta de mão-de-obra preocupa hoteleiros  
 
Ordenados maiores e perspectivas de uma carreira internacional são duas das exigências dos novos trabalhadores do sector do turismo, numa altura em que a falta de mão-de-obra já se faz sentir.  
 
Todos os anos saem das 12 escolas do Turismo de Portugal cerca de 1.400 alunos de formação inicial e outros 4.500 de formação contínua, isto é, profissionais ou desempregados. Um número que não está a cobrir as necessidades do sector.  
 
Os hoteleiros ouvidos pelo Negócios são unânimes: há falta de mão-de-obra "Quanto mais qualificada, mais difícil", aponta José Roquette, administrador dó grupo Pestana. A escassez reflecte-se num aumento do custo médio com novos trabalhadores, sublinha. Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador do grupo Vila Galé, concorda. "O crescimento do turismo em Portugal e os hotéis que abriram ou vão abrir geraram maiorprocurade recursos humanos e de mão-de-obra", diz. As áreas operacional, de cozinhas, restaurante e limpezas são onde mais se nota essa falta.  
 
"O que observamos agora é que o mais preponderante para quem procura trabalho é o factor financeiro, acima do desenvolvimento da carreira", aponta Karim Rajabali, responsável financeiro do grupo The Beautique Hotels, dono do Figueira e do WC Beautique Hotel.  
 
Contudo, há outro aspecto que pode pesar: a possibilidade de uma carreira internacional. E esse ponto que a Minor Hotels procura promover nas acções de recrutamento que tem levado a cabo. Helena Costa, directora de recursos humanos no grupo dono dos Tivoli, explica que "na região do Algarve a dificuldade [em encontrar mão-de-obra] é mais acentuada". A procura já está a ser feita junto de escolas estrangeiras, como a Les Roches em Marbella.  
 
"A formação em turismo e em hotelaria em Portugal é de qualidade e chegam-nos pessoas cada vez mais preparadas,", caracteriza Gonçalo Rebelo de Almeida dos Vila Galé. Tendo análises como esta em conta, o Governo já fez saber que está a trabalhar para adaptar ainda mais a formação em turismo às necessidades do mercado de trabalho, com a revisão dos próprios currículos dos cursos. A reconversão profissional é outra das vontades.  
 
Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística mostram que, no terceiro trimestre de 2017, existiam 345.900 trabalhadores no sector do alojamento e restauração. Só o ano passado contribuiu com 53 mil novos postos de trabalho.  
 
TOME NOTA  
 
O que procuram e oferecem os maiores grupos  
 
PESTANA  
 
0 grupo Pestana anunciou esta semana a abertura de 300 vagas de emprego, em áreas como cozinha, limpeza, restaurante, recepção ou animação. 0 administrador José Roquette já admitiu que existe falta de mão-de-obra em Portugal para o sector do turismo, o que se tem reflectido num aumento do custo médio. "Não existe mão-de- -obra para acompanhar tanto crescimento da oferta hoteleira", diz.  
 
VILA GALÉ  
 
Este grupo hoteleiro conta com uma academia, com programas em áreas como educação ambiental, línguas, segurança contra incêndios, gestão de reclamações ou decoração de áreas de refeição. A cadeia hoteleira tem procurado também permitir aos seus colaboradores o acesso a descontos dentro do grupo ou em empresas parceiras, bem como atribuído prémios de produtividade ou seguro de saúde.  
 
ACCOR  
 
O grupo que integra marcas como Sofitel, Ibis ou Novotel admite que há "cada vez mais dificuldade em recrutar mão-de-obra especializada". O seu perfil internacional, com perspectivas de carreira além-fronteiras, é uma das componentes que o grupo procura divulgar junto de potenciais candidatos. É também feita uma referência a programas de formação em áreas como servi-  
 
OMT quer centro mundial de formação turística em Portugal  
 
Na sua primeira visita de Estado, o novo líder da Organização Mundial do Turismo elogia a hospitalidade portuguesa e diz que o país pode servir de exemplo para outros na Europa.  
 
ções da Organização  
 
Uma das preocupa- Mundial do Turismo (OMT) é a formação dos recursos humanos no sector. Uma das respostas passa pelo "campus" digital da instituição onde são dados cursos à distância. Avontade é de que esses ensinamentos possam também concretizar-se em escolas físicas. E é aí que Portugal pode ajudar, com formações em áreas como marketing e promoção turística ou gestão hoteleira. Em conversa com o Negócios, o novo secretário-geral da OMT, Zurab Pololikashvili, mostra-se entusiasmado com a possibilidade de utilizar as escolas do Turismo de Portugal como um ponto de partida para esta parceria. A avançar, este centro de formação mundial da OMT implicaria a vinda de estudantes estrangeiros para Portugal.  
 
Portugal é a sua primeira visita de Estado enquanto secretário-geral da OMT. Foi uma boa escolha?  
 
Sinto que Portugal seria um dos melhores países para visitar. Porque é muito activo e tem uma relação muito próxima com a OMT.  
 
Chegou a ser embaixador da Geórgia em Espanha, aqui ao lado. Nessa altura, enquanto turista, o que mais gostava quando visitava Portugal?  
 
Um dos grandes activos de Portugal são as pessoas e a sua hospitalidade. Claro que há o sol e a parte cultural, mas sem a hospitalidade... Sinto que os portugueses estão empenhados em fazer parte do desenvolvimento do sector do turismo. E têm orgulho disso.  
 
No ano passado, tivemos um recorde no número de turistas. Como o vê?  
 
Penso que Portugal vai ter mais recursos nos próximos anos. Isso é fruto de um grande trabalho do Governo e do sector privado. Reuni-me com o primeiro-ministro e com o ministro da Economia. Comprometeram-se a apoiar o sector do turismo. É importante esse apoio. Fico também muito satisfeito de ver que os portugueses são uma parte importante desta estratégia de desenvolvimento.  
 
Definiram objectivos nessa reunião? Sim, sobretudo na inovação e na formação. Vamos colaborar de forma muito próxima. Houve a oportunidade de discutir [a instalação] de um centro de formação [da OMT] a nível global em Portugal.  
 
Como funcionaria?  
 
Visitámos Lisboa, Setúbal, Estoril e Alentejo [onde existem escolas de formação hoteleira], para ver para onde poderemos trazer a nossa escola. Há uma procura enorme em todo o mundo por centros de treino e formação no sector do turismo. Gostávamos de ter um destes centros em Portugal. Não excluo ter o mesmo tipo de centros noutras regiões, noutros continentes.  
 
Estão então ainda a avaliar onde instalá-lo...  
 
Não é uma questão de locais. A coisa mais importante para o centro de formação é ter programas concretos. E que tipo de programas vamos disponibilizar aos estudantes, como, por exemplo, em marketing, promoção turística ou gestão hoteleira, áreas muito importantes para o sector.  
 
Trazendo estudantes de outros países?  
 
Sim, dar-lhes a experiência de como funciona aqui em Portugal. Vamos tentar também ter programas de treino de curta duração.  
 
Este tipo de formação pode ajudar a atenuar a falta de trabalhadores que já se começa a sentir no sector em Portugal?  
 
Acredito que sim. Uma vez mais, Portugal está no caminho certo.  
 
Até agora falámos dos aspectos positivos. Contudo, Portugal tem um longo caminho para melhorar no turismo. Quais são, para si, as maiores falhas ou fraquezas do turismo nacional?  
 
O maior problema para o país foi, certamente, a crise económica. Felizmente, está a ser ultrapassada e um dos grandes motores para a resolver foi o turismo. Os números estão a melhorar, com crescimentos entre 5 e 7% todos os anos. Acredito que esta dinâmica se manterá, diversificando o portefólio de produtos turísticos. Pprtugal tem produtos interessantes e variados.  
 
Há vozes mais críticas que falam apenas numa "moda" por Portugal...  
 
É bom se for moda. Contudo, a moda mantém-se porque se está a fazer de Portugal um importante destino turístico.  
 
0 crescimento do turismo lançou também a discussão sobre o equilíbrio com a vida dos locais, na questão do alojamento local e das pressões no preço do imobiliário. Devemos estar preocupados?  
 
O Governo português tem uma visão muito clara. Antes de mais, está tudo legal. São um dos primeiros e um exemplo muito bom de como legalizar este negócio privado, que existe em todo o mundo, gerando discussões. Uma vez mais, estamos a falar de emprego.  
 
Mas isso não elimina necessariamente a imagem negativa...  
 
Claro. Esse balanço é importante. Tenho a certeza de que a vossa equipa, liderada pelo Turismo de Portugal, saberá como fazê-lo.  
 
Que outros países podem seguir o exemplo de Portugal?  
 
Há muitos, claro, não queria estar a nomeá-los. Na Europa, para mim, Espanha. Não falando em termos de números, mas sim de diversificação do portefólio de produtos turísticos. A Croácia é também um exemplo interessante, porque se tomou um importante destino turístico após a crise, como Portugal.  
 
Globalmente, quais são os maiores desafios para o sector?  
 
Uma vez mais, volto à inovação. Sem inovação não há desenvolvimento. Está ligada, no sector do turismo, com a formação e a sua promoção em todo o mundo. Ê um grande desafio porque, como organização, estamos limitados em termos de recursos humanos e financeiros. A segurança é outro desafio onde temos de estar próximos.  
 
Para concluir, que parte de Portugal gostaria ainda de visitar no futuro, como turista?  
 
Nunca estive no Sul. Nas vezes que cá vim, visitei quase sempre Lisboa, Porto e a parte norte de Portugal, perto da Galiza. Adorava visitar o Sul e passar mais tempo em Lisboa. E ver a parte vinhateira do país, que só conheço pelas fotos. Vou tentar voltar de novo.  
 
PERFIL  
 
Georgiano trocou banca pelo turismo  
 
Zurab Pololikashvili é, desde o primeiro dia de 2018, o novo secretário-geral da Organização Mundial do Turismo - o vigésimo segundo no cargo.  
 
Apesar de um percurso inicialmente ligado aos sectores bancário e financeiro, com formação nessa área, o turismo é uma presença constante nas tarefas profissionais. Enquanto ministro do Desenvolvimento Económico da Geórgia, com a pasta do turismo, viu duplicar o número de visitantes no país: dos 1,5 milhões em 2009 para os 2,8 milhões em 2011. Mais recentemente, foi embaixador da Geórgia para Espanha, Marrocos, Algéria e Andorra.  
 
Em simultâneo, representava o seu país natal na OMT. Zurab Pololikashvili conhece sete línguas, tem 41 anos, é casado e pai de três filhos. O seu mandato na OMT estende-se até 2021.  

in Jornal de Negócios, por Wilson Ledo

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