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Desastre de Lisboa é grave mas turismo escapa ao choque

A presidente da Associação de Hotelaria de Portugal diz que não houve cancelamentos. O acidente, de baixo risco e alto impacto, deixa marcas, mas não mancha a reputação da cidade.

O acidente no Elevador da Glória, em Lisboa, provocou 17 mortos e 21 feridos, incluindo uma criança de três anos que sofreu ferimentos leves. A notícia correu o mundo. Até no Japão abriu os noticiários televisivos daquele dia e manteve-se no centro da atualidade informativa nos dias seguintes. O símbolo de Lisboa, o elétrico amarelo, aparecia esmagado contra o muro cor de rosa de uma casa – uma imagem fatal e muto distante dos pequenos ímanes de frigorífico que enxameiam as lojas para turistas. As mortes e os feridos ficam registados para sempre, não se apagam, e os efeitos na imagem de Lisboa – irão sarar depressa?

Cristina Siza Vieira, presidente da Associação de Hotelaria de Portugal (AHP), diz que o desastre, embora trágico, não terá impacto relevante: “Um evento localizado como este não muda o comportamento dos mercados estrangeiros e não afeta a imagem de Portugal como destino seguro,” afirma, destacando que outros fatores têm “um peso muito superior” na perceção internacional e nas decisões de viagem. Quais? A instabilidade política e social, como aconteceu – e se repete – em França, ou como na última semana engoliu a capital do Nepal, Kathmandu.
A presidente da AHP defende que o setor turístico em Portugal permanece robusto. Os números mais recentes, embora todos anteriores ao acidente, confirmam o impulso da última década, excluindo o período Covid-19. Em 2024, o país recebeu 29 milhões de turistas estrangeiros, um novo recorde e um aumento de 9,3% face ao ano anterior.

“O turismo vive da promessa de segurança, acolhimento e previsibilidade. Episódios como este, ainda que dolorosos, não alteram significativamente a procura nem a confiança dos visitantes.” É uma espécie de blip que não muda o todo. As reservas não caíram, não houve cancelamentos. Aliás, nos próximos dias, Lisboa recebe o encontro mundial de gaming, milhares de pessoas, e este tipo de eventos também se mantém sem alterações.

Em linha com recomendações internacionais para a gestão ”rápida e transparente” de crises, Siza Vieira reforça a importância de uma resposta célere. “O pior erro é o silêncio. Tem de haver explicação imediata da causa técnica, das medidas corretivas e um calendário definido para reabertura,” sublinha. A responsável pela AHP considera que o acidente se deve enquadrar na lógica dos eventos de ‘baixo risco, mas alto impacto’, o que exige protocolos eficazes e visibilidade das medidas para reforçar a segurança.
Para Cristina Siza Vieira, é fundamental que o município, os operadores e os reguladores assumam responsabilidades e promovam auditorias independentes, robustecendo a confiança dos visitantes. “Provas visuais, inspeções e certificações são essenciais para transmitir segurança”, acrescenta, defendendo que se deve reconstruir “melhor e mais seguro”.

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Desta forma, a líder da AHP distingue o impacto de fenómenos sistémicos, como o terrorismo ou a instabilidade política, dos efeitos de acidentes isolados. “O tempo médio de recuperação após crises graves caiu de 26 para 10 meses entre 2001 e 2018, demonstrando a resiliência do setor. Destinos que comunicam com clareza e agem rápido recuperam mais depressa,” refere, citando dados do World Travel & Tourism Council. A responsável diz que este acidente é “um teste à maturidade da cidade de Lisboa e à gestão de confiança do destino”. Apela a uma resposta transformadora, reafirmando que “a atração não deve apenas ser reparada, tem de ser reconstruída melhor, mais segura e mais transparente.”
E o facto de o acidente juntar-se (acumular) a outras queixas de lisboetas e turistas, como as longas filas no aeroporto de Lisboa – por vezes, mais de uma hora para passar no controlo de passaportes –, e o lixo que se acumula nas ruas, além dos preços altos? “Quanto ao controlo nas fronteiras, Madrid passou pelo mesmo este verão. Sobre o lixo: é mau, sim, é péssímo, mas acontece noutros destinos turísticos. Tem de haver uma resposta mais adequada. As infraestruturas estão sob forte pressão, a taxa turística tem de ser usada para melhorar o que for preciso. Sendo uma taxa e não um imposto, deve pagar um serviço, até para que portugueses e turistas vejam que o desgaste tem como contrapartida investimento que tem origem na taxa turística. O facto de haver 50 municípios que cobram taxa turística sem grande pressão de viajantes já é um outro assunto.

Sobre os preços cada vez mais altos, diz que já lá vai o tempo em que Madrid cobrava caro e Lisboa ficava como o destino barato. “Mas, claro, é preciso que a oferta cultural, e outra, tenha resposta.”

in Jornal Económico, por André Macedo

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