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Com 45 mil trabalhadores em falta no turismo hotelaria pede via verde à imigração

Hotéis estão a recorrer a horas extraordinárias para compensar falta de trabalhadores. AHP pede redução dos impostos e facilidade na contratação de estrangeiros.

escassez de mão-de-obra no turismo e a inflação são as duas maiores preocupações da hotelaria nacional para enfrentar os próximos meses de verão e que podem mesmo impactar a tão esperada retoma aos níves de 2019, ano em que Portugal teve a melhor performance turística de sempre. Apesar de os turistas estarem a regressar ao país, os empresários do setor temem não conseguir dar resposta à elevada procura que se antevê para os meses de verão e a Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) pede respostas: a redução da carga fiscal e a agilização da contratação de estrangeiros.

Entre junho e setembro, os hoteleiros esperam, na média nacional, taxas de ocupação a atingir os 59%. Os dados são de um inquérito promovido pela AHP, apresentado ontem. A associação que representa o setor hoteleiro alerta que estas previsões são ainda tímidas uma vez que a informação foi recolhida em abril. Com as reservas de última hora a ganhar palco, é esperada uma ocupação ainda superior com os turistas a reservar as suas férias em cima da hora. Para a maioria dos inquiridos (56%) há dois problemas que ameaçam a tão esperada retoma: a falta de trabalhadores e a inflação.

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Com uma escassez de mão-de-obra de 45 mil trabalhadores no turismo - 15 mil só na hotelaria -, a AHP alerta que os hotéis têm recorrido ao aumento dos horários do pessoal, situação que não é exequível a longo prazo.

"Os hotéis estão a recorrer imensamente a horas extraordinárias. Os trabalhadores sentem esse peso porque os que estão trabalham mais. Esta é uma situação que não se aguenta muito tempo", aponta a vice-presidente executiva da AHP. Cristina Siza Vieira explica que os salários estão já a subir, como consequência da falta de profissionais, e que a tónica do problema está na exigência das horas trabalhadas.

"Um dos problemas graves é o equilíbrio entre a vida pessoal e a vida profissional. A hotelaria é muito exigente e só há uma forma de equilibrar isto, é haver mais trabalhadores", acrescenta.

A possibilidade de contratar mão-de-obra estrangeira é um pedido já antigo do setor. O governo tem firmado, entretanto, acordos de mobilidade de trabalhadores com outros países, como são exemplos a Índia ou Marrocos.

Na semana passada, o ministro das Finanças, Fernando Medina, garantiu, no encerramento do debate e votação na especialidade do Orçamento do Estado para 2022 (OE2022), que estes acordos se encontram "em estado avançado", adiantando que estão a ser negociadas novas alternativas com países como a Tunísia, a Moldávia, o Uzbequistão, a Geórgia ou as Filipinas, de forma a responder à falta de pessoal em vários setores do país. O governante relembrou que entrou em vigor, a 1 de janeiro, um Acordo sobre a Mobilidade entre os Estados-membros da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa).

Já a vice-presidente executiva da AHP pede uma resposta mais rápida e eficiente para a trazer os imigrantes. "É necessário agilizar os procedimentos e ter uma via verde para a imigração. Foi feito este acordo com a CPLP e, neste momento, ainda está empacado por aí, não sei aonde nem porque é que não se tem agilizado o suficiente. Os outros países também se estão a mexer para ter um pacote para cativar imigantes", avisa.

Cristina Siza Vieira aponta ainda a redução dos impostos como medida essencial e urgente para ajudar as empresas da hotelaria a contratar. "É fundamental o Estado olhar para esta situação. Estamos quase numa situação de pleno emprego, recrutar mais gente vai custar mais. O Estado tem de aliviar a carga fiscal na contratação. É muito pesado contratar em Portugal. Os salários estão a subir, claramente estão, mas esta não é a única solução", indica.

Preços nos hotéis podem subir até 10%
A subida dos preços e os recordes da inflação são outras das preocupações dos hotéis com o verão à porta. Para a porta-voz da AHP, não há dúvidas que será inevitável refletir esses custos no consumidor. No mesmo inquérito promovido pela associação, os hotéis do Açores, da Madeira, do Algarve e do Alentejo dizem esperar vender mais caro este verão face a 2019. As restantes regiões do país preveem manter os preços praticados antes da pandemia.

Reservar férias nos hotéis do país deverá mesmo ficar mais caro este ano pelos dois fatores na equação: o aumento da procura motivado pela retoma do turismo e pela inflação que poderá puxar os preços até 10%.

"A inflação é refletida sobre consumidor. Os preços aumentariam sempre, mais que não fosse, pela razão da inflação. Daí os hoteleiros dizerem que o peço médio será superior porque não há outro remédio. Isto, aliado aos custos salariais e à procura do mercado, vai fazer com que os preços subam. Se os preços subirem entre 8% e 10% não estranharia", assegura Cristina Siza Vieira

in Dinheiro Vivo, por Rute Simão

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