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Hotéis. Portas fechadas ou em risco de encerramento

Uma das alternativas para fintar este cenário passa por transformar os quartos em escritórios para teletrabalho ou reduzir as unidades abertas. 
 
Hotéis fechados, outros à beira de encerrar, projetos adiados e unidades reinventadas. É este o raio x do setor em Portugal e as perspetivas não são animadoras. Para a Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) não há dúvidas: a falta de apoios, aliado à perca de turistas, vai provocar o encerramento dos hotéis, falência das empresas e despedimento de trabalhadores. De acordo com os últimos dados da associação liderada por Raul Martins, para este ano estava prevista a abertura de 51 novas unidades hoteleiras, num total de cinco mil camas, no entanto, a abertura está adiada até “melhores dias”. 
 
De acordo com o responsável, “a situação é muito complicada, não há hóspedes, mas não podemos falar, para já, de encerramentos definitivos na hotelaria. Até ao final do ano estimamos que mais de 70% da oferta esteja encerrada e não reabra antes da primavera de 2021. No nosso último inquérito as perspetivas de taxa de ocupação para os meses de outubro a dezembro já eram muito baixas. 
 
Só para ter uma ideia, nas poucas unidades que permanecessem abertas, a previsão de ocupação, com base nas reservas até 15 de outubro, era de 23% para a região Norte, 15% para o Algarve e apenas 11% para Lisboa”, refere ao i. 
 
Numa ronda feita pelo i, os empresários do setor confessam as dificuldades relativas à taxa de ocupação e a necessidade de terem apenas algumas das unidades abertas, em detrimento de outras. Para já, estão de olhos postos no Natal e na passagem de ano numa tentativa de minimizar as perdas já registadas, ainda assim pedem apenas “uma situação o mais normal possível”. A AHP, admite que “já há unidades hoteleiras com vários produtos pensados para esses dois momentos. No entanto, neste momento na hotelaria as reservas não estão garantidas. A realidade é que com esta 2.3 vaga a começar não sabemos que mais restrições podem vir por aí. E depois temos já muitas unidades encerradas que não abrirão para o Natal e Passagem de Ano de 2020”. E, de acordo com o responsável, “o ano está irremediavelmente perdido para a hotelaria”, considerando que a quebra nas dormidas em 2020, pode chegar a 46,6 milhões, e a perda de receita a 3,6 mil milhões de euros, o que representa uma quebra de cerca de 80% face a 2019. 
 
No Porto, o cenário é arrasador. Desde o início do mês já fecharam 20 hotéis na cidade do Porto, levando ao encerramento de 3200 camas. Os números foram avançados pelo presidente da Turismo do Porto e Norte de Portugal (TPNP), que pede ao Governo que reforce as medidas de apoio aos empresários do setor da hotelaria e da restauração. “Apelo ao Governo para que não deixe de continuar a apoiar estas empresas e que vá adaptando à medida que as circunstâncias também forem mudando. Isso é muito importante. Sendo que o objetivo principal é mantê-las ativas ou preparadas para entrarem em operação a qualquer momento e a outra é manter os postos de trabalho”, disse Luís Pedro Martins. 
 
Mas os problemas não ficam por aqui. De acordo com as contas do presidente da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos da Região do Algarve, entre 75% a 80% dos hotéis e empreendimentos turístico estão fechados, os restantes estão sem clientes e podem seguir o mesmo rumo. Segundo Elidérico Viegas, “durante o inverno, antes da pandemia, cerca de 50% dos hotéis e empreendimentos já encerravam”, um problema que ganha contornos com a pandemia. “Por um lado, as pessoas têm medo de viajar, em todo o mundo, e por outro lado ainda não existe uma confiança das pessoas relativamente à questão da doença, da pandemia, que lhes permita passar a consumir férias de uma forma normal”, referiu. 
 
O i apurou que são vários os hotéis conhecidos que estão em vias de fechar portas, entre os quais poderá estar o Sheraton face à falta de reservas. Alguns ponderam mesmo só reabrir na época da Páscoa, pois acham que o Natal e o Fim de Ano já estão perdidos. 
 
QUARTOS TRANSFORMADOS EM TELETRABALHO Uma das estratégias que estão a ser seguidas por algumas das cadeias hoteleiras é transformar os quartos em escritórios para teletrabalho. Um desses exemplos, são os hotéis HF que acena com a oferta transformar “o escritório no hotel das 8h às 20h”, com vista a “proporcionar uma pausa das novas rotinas do teletrabalho com a possibilidade de trabalhar no hotel”. 
 
De acordo com grupo HF Hotels foi criado um serviço em que pode transformar um dos quartos dos hotéis HF Ipanema Park (Porto) e HF Fénix Lisboa (Lisboa) num escritório, por um dia. 
 
Também o Lisbon Marriott Hotel está a transformar alguns dos seus quartos não ocupados em escritórios. A ideia é oferecer aos seus clientes (em muitos casos, novos clientes, que vivem em Lisboa e nunca dormiram no hotel) o ambiente propício para dias de teletrabalho ou fazer videoconferências. Trata-se do serviço Work Away que foi criado “para facilitar o trabalho e a logística dos profissionais autónomos e das empresas que procuram um ambiente tranquilo, seguro e mais económico para trabalhar”. A fórmula é simples: os quartos selecionados, que agora são escritórios, no lugar da cama há uma mesa e algumas cadeiras de escritório e internet de alta velocidade. 
 
Ao i, Elmar Derkitsch, diretor-geral da cadeia de hotéis, diz que “as novas restrições originaram cancelamentos imediatos de clientes que estavam a organizar pequenas reuniões”, acrescentando que também tiveram cancelamentos de reservas de quartos. A situação não é animadora: “As reservas de noites para os próximos meses também quase não existem”, avança o responsável que, apesar de compreender as medidas do Governo, diz que “vão ter um impacto devastador no setor da hotelaria, restauração, comércio e serviços”. E deixa críticas: “A comunicação das novas medidas é sempre feita à última hora e depois existem sempre várias alterações e exceções. O Governo tem peritos dos vários setores de atividade que alertam para as consequências das medidas implementadas? Para o nosso setor da hotelaria, esta situação parece não estar a acontecer e está a ser descurada a vertente económica bem como todas as consequências destas novas restrições”. 
 
Se o estado de emergência se prolongar, não há dúvidas: “Mais hotéis e restaurantes vão encerrar ou entrar em insolvência”. “Medidas como o layoff ou despedimentos coletivos irão ter de ser utilizadas pelos hotéis - infelizmente, estas vão ser as únicas medidas que oshotéis podem utilizar para sobreviver a esta crise sem precedentes”. 
 
O mesmo cenário repete-se com o grupo Sana. De acordo com o diretor geral Vítor Gonçalves, a cadeia tem quartos e salas para arrendar. “Aluga-se ao dia e o preço é mais barato do que alugar um quarto”, não querendo adiantar o valor. 
 
reduzir oferta Face à situação pandémica, o Altis Hotels diz que atualmente só tem “uma unidade em funcionamento”, das seis que possuem. Também a Vila Galé optou por manter dez hotéis abertos em Portugal, assegurando assim uma cobertura de todo o território: Ao i, o grupo hoteleiro garante que a taxa de ocupação global neste momento é de cerca de 15%. “Face às restrições do Governo, a Vila Galé está a reforçar o seu serviço de take away e delivery a partir dos restaurantes de alguns hotéis como Vila Galé Ópera, Vila Galé Coimbra e Vila Galé Évora, além de, obviamente, continuar a seguir todas as normas de segurança e higiene. Relativamente ao futuro, tudo dependerá da evolução da pandemia e das medidas introduzidas, pelo que é muito difícil fazer previsões nesta altura”. 
 
Apesar de a situação ser grave, o Pestana Hotel Group, que opera em 15 países e três continentes, “não antecipa encerrar nenhum”. No entanto, pode “suspender as operações consoante a procura (ou a falta dela)”, diz ao i. 
 
Até porque a ocupação média prevista para este mês para as unidades hoteleiras em Portugal que se manterão abertas “deve rondar os 10% a 15%, o que se traduz numa redução significativa em relação aos três meses anteriores”. O grupo voltou aos valores de junho. 
 
No que diz respeito às restrições impostas pelo Governo, estas implicaram logo “níveis preocupantes de cancelamento de reservas existentes e ao quase desaparecimento de novas para os próximos meses”. Ao i, o grupo deixa um exemplo: “Podemos afirmar que mais de 50% das reservas que tínhamos na rede de Pousadas de Portugal para o fim de semana de 1 de novembro foram canceladas após a imposição das restrições”. 
 
A Passagem de Ano e o Natal são, para já, uma incógnita. “Seria por isto essencial que as medidas agora em vigor fossem aliviadas, no sentido de permitir deslocações, nomeadamente para estadias em hotéis que, à semelhança de todos os hotéis do Grupo Pestana, sejam oficialmente certificados quanto à segurança e higiene”. Mas não é esse o cenário que o grupo está a trabalhar e, até março, dizem, o cenário é “bastante pessimista”, uma vez que não esperam “nenhuma movimentação positiva nos mercados turísticos”. 
 
O empresário Pedro Luz, do grupo Brown’s, defende que a capital vai perder muito com as restrições: “Lisboa, que já foi considerado o melhor destino para um weekend break na Europa, dificilmente vai manter o título, com os clientes fechados nos quartos de sábado às 13h até segunda de manhã, portanto sim esperamos uma avalanche de cancelamentos”, conta ao i. 
 
PREPARADO PARA O FIM DE ANO A Sul, Gonçalo Narciso dos Santos, general manager do Bela Vista Hotel & Spa, lembra que o verão “foi marcado por uma vaga de reservas maiordo que o esperado”. Mas o mesmo não está a acontecer nesta altura e, “atualmente, a procura diminuiu e as reservas são poucas, não só devido às restrições do Governo, como do aumento dos casos que se têm vindo a registar”. A justificação é simples: “As pessoas ainda têm medo de viajar e, por outro lado, temos o medo da doença, o que não lhes permite desfrutar das férias como seria de esperar”.“Vamos ter alguma dificuldade em recuperar, mas acreditamos que nem tudo está perdido”, espera o responsável. 
 
Para já, o final do ano está a ser preparado na perspetiva de se recuperar algum do volume de negócio perdido nos últimos tempos e ainda acreditam que poderão fazer menus de passagem de ano e Natal mas com salas reduzidas. 

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