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“O meu sonho é tornar a hotelaria portuguesa melhor e mais forte”

Como se deu o seu primeiro contacto com o turismo? Em 1971, o meu pai decidiu criar o seu primeiro hotel, o Altis Grand, na Rua Castilho, motivado pela oportunidade de investir numa área que parecia ter potencial de crescimento e porque havia um incentivo muito importante por parte do Governo para o investimento em unidades hoteleiras. Aliás, estas condições permitiram o aparecimento de novos projetos hoteleiros na cidade, tendo alguns grupos hoteleiros nacionais nascido precisamente nesta altura. Eu tinha acabado o meu curso de Engenharia e estava a cumprir o serviço militar, tendo já acompanhado a construção do hotel e participado inclusive na sua construção e conceção, em conjunto com o projetista e o diretor de obra. No entanto, na minha entrada nesta atividade da família, o meu foco foi a vertente imobiliária, acompanhando naturalmente o desenvolvimento dos projetos dos hotéis. Nos últimos 10 anos, em que o Grupo Altis teve, digamos, uma segunda vaga de novos hotéis – Altis Belém, Altis Avenida e Altis Prime (2006, 2007, 2008) – a minha participação nos hotéis já foi total, da construção à conceção. A marca Altis vai permanecer dentro da família? Estamos certos que sim. É esse o desígnio. Esta é uma empresa familiar, a minha irmã participa também na gestão, eu estou mais virado para o front-office dos hotéis e ela para o back office. A área financeira, vendas, marketing e receção é a minha; a parte do pessoal, alojamento e decoração é com a minha irmã. Temos hoje já a terceira geração a trabalhar, sendo quatro os elementos que se distribuem entre a área financeira e de controlo de qualidade, a acompanhar a atividade. Qual o segredo do sucesso dos Altis? A velha máxima da hotelaria é localização, localização e localização. A nossa é trabalho, trabalho e trabalho. No fundo há, da parte do meu pai, uma visão estratégica. O meu pai abraçou várias atividades económicas ao longo da sua carreira e esteve sempre à frente de atividades estratégicas para o país, em diferentes momentos. Por exemplo, teve padarias a seguir à 2ª Guerra Mundial, quando o pão era difícil de obter. Arrancou para a área da construção quando surgiu a necessidade de construir em Lisboa. Primeiro forneceu materiais de construção, depois veio o interesse pela área imobiliária e hoteleira, porque se apercebeu que eram negócios de futuro. O meu pai teve sempre a visão para estar à frente dos negócios que viriam a ser importantes para o país. Tendo sido o seu pai o fundador da marca, como foi conviver com esta herança? Estive sempre por dentro do negócio, participei sempre e muito na definição dos projetos e ideias que ele liderava. Não é que ele tivesse sempre feito aquilo que eu sugeria, mas uma das suas características é que ouvia as pessoas do meio, escolhendo os caminhos que considerava mais válidos. Essa é uma capacidade importante, ouvir os outros e depois decidir. Hoje, por exemplo, estando à frente da Associação dos Hotéis de Portugal (AHP), escuto vários responsáveis, mas depois tenho de escolher o meu caminho. A visão do seu pai está a ser seguida? Qual a sua marca pessoal? Foi seguida, mas complementada. Quando se opta pela situação de se fazer um hotel este será influenciado pela informação que há na altura, assim como pelos apoios financeiros. Depois disso as opções são baseadas de acordo com a experiência de quem toma decisões. Se for eu, será de acordo com a minha experiência. Por exemplo, o Altis Suites foi definido por mim. Já tínhamos 300 quartos numa unidade hoteleira (Altis Grand), onde iríamos fazer um projeto para mais 80 quartos, criei então o conceito Altis Suites que foi outra solução de alojamento para nós. Aliás, este terá sido o primeiro projeto de apartamentos turísticos na cidade de Lisboa, com esta dimensão. Também foi assim com os nossos três últimos projetos. Fui eu que cheguei ao meu pai com o contrato para a assinatura deste hotel (Altis Belém). A preocupação dele era quanto tempo demoraríamos a pagar, depois de saber disse então para se avançar porque ainda cá estaria. Que momentos foram mais marcantes? Há momentos mais ou menos dramáticos. Por exemplo, na construção do primeiro Altis, na Rua Castilho, onde era adjunto do diretor de obra, cheguei ao edifício e estavam funcionários a sair pela janela. Rapidamente me apercebi que havia um incêndio. Foi dramático porque o primeiro ataque ao incêndio foi com extintores, mas não conseguíamos controlar a situação. Entretanto, como tínhamos um ensaio de carga do sistema de abastecimento de água, lembrei-me de abrirmos a água que estava naquela tubagem, e isso apagou praticamente o incêndio. Mas a concretização dos nossos três projetos mais recentes, o Belém o Avenida e o Prime, foi muito importante para mim até porque marcam uma viragem na oferta do grupo pela sua inovação. A hotelaria em Portugal é um bom negócio? É um bom negócio, mas é de maratonistas, de grande resistência. No nosso caso já vivemos várias crises. O nosso primeiro hotel abriu em novembro de 1973, em abril de 1974 os turistas deixaram de existir, depois foi a época dos retornados. Nestes contextos, o que nos valeu foi termos uma taxa de juro fixa, de forma a cumprirmos com as obrigações financeiras. Os anos recentes, com Portugal numa crise interna e a crise do petróleo, trouxeram grandes dificuldades ao turismo mundial. Mas, por outro lado, hoje as crises internacionais ao nível de segurança são benéficas a Portugal. A hotelaria é de facto uma prova de grande resistência. No nosso caso, em que somos proprietários de edifícios, piora um pouco. Enquanto as cadeias hoteleiras que fazem a exploração chegam e operam nesse local, saindo quando passam a ser problemáticos, no nosso caso, é necessário ter muito fôlego. Que conselhos daria à nova geração de hoteleiros? Os novos hoteleiros estão no bom caminho. É fundamental a aposta em hotéis temáticos e a diversificação da oferta. Os clientes hoje querem ter experiências. No Altis Belém temos o tema dos Descobrimentos, sendo que cada quarto tem uma história. A nova geração de hoteleiros, ou dos que prestam serviços de turismo, está a agarrar muito bem a inovação. No fundo sabem muito bem aquilo que as pessoas gostam e são capazes de pôr isso em prática, e estão a fazê-lo bem. Por isso não precisam de conselhos (risos). Qual a unidade que tem mais significado para si? É o Altis Belém, que era um sonho que tinha há alguns anos e que acompanhei desde o contrato com a APL, defini o projeto, supervisionei a construção e organizei a exploração. Este é o seu hotel de sonho? De facto é aquele com que me identifico mais e que agora obteve o prémio para o melhor hotel design da Europa e tem no restaurante Feitoria, com 1 estrela Michelin, uma aposta na moderna cozinha portuguesa. Sonhos temos sempre, sonhar é importante, até para dar valor à realidade. Por uma questão de missão, o meu sonho é tornar a hotelaria portuguesa melhor e mais forte. Isso é um desígnio que me apareceu e que quero cumprir.

Esta é a 2ª Parte da Grande Entrevista da Edição Nº 294 da Ambitur. Pode ler aqui a 1ª Parte.

Inês Gromicho e Pedro Chenrim

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