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Mais 12 mil turistas vieram a Lisboa, mas gastaram menos

Andam pela Baixa, vão ao Castelo e aos Jerónimos, passeiam a pé e de elétrico e fazem questão de provar os pastéis de Belém. No ano passado, 512 mil turistas de cruzeiros desembarcaram na capital e cada um deles deixou em média 130 euros na cidade-menos do que em2014, ano que o Turismo de Lisboa diz ter sido "exce- Cional".  
 
Cruzeiros. Turistas gastam menos 25 milhões mas maioria quer voltar  
 
Lisboa. Em 2015, houve mais 12 mil estrangeiros a desembarcar na capital, mas cada um deixou em terra, em média, menos 53 euros do que em 2014. Turismo de Lisboa desvaloriza quebra.

"O turista que consome é dos cruzeiros e o que anda solto, sem ser em excursão. Os que vêm em excursão não compram." Há vários anos que Carlos vende aguarelas de monumentos e paisagens lisboetas em Belém, ora em frente aos incontornáveis Pastéis de Belém ora no túnel que liga a Praça do Império ao Padrão dos Descobrimentos, e sabe bem quais são os turistas que, tradicionalmente, mais gastam na capital. No ano passado, o balanço poderia ter sido melhor. Em 2015, cada um dos mais de 512 mil passageiros de cruzeiro que desembarcaram em Lisboa deixou em terra, em média, menos 53,21 euros do que no ano anterior, quando o montante atingira os 183,49 euros. A diferença representou uma quebra, de um ano para o outro, de 92 para 67 milhões de euros no dinheiro injetado diretamente na economia local, apesar de o número de visitantes que chegaram à cidade de barco ter subido - então, tinham sido cerca de 500 mil. A Associação Turismo de Lisboa (ATL) ressalva, porém, que os resultados "estão em linha com a média dos três anos anteriores", com 2014 a representar um ano "excecionalmente" muito bom. "Face a inquéritos anteriores e nas várias análises feitas, os resultados de 2014 são excecionalmente muito bons, pelo que a interpretação dos resultados de 2015 deve ter em consideração este ponto e o histórico dos anos anteriores", argumenta, numa resposta enviada por e-mail ao DN, a ATL, sem, no entanto, avançar uma explicação quer para a excecionalidade de 2014 quer para a redução registada no ano passado e apurada no âmbito de um inquérito anual elaborado por si em parceria com a Administração do Porto de Lisboa (APL) sobre o turismo de paquetes. De acordo com o documento publicado no site do Observatório do Turismo de Lisboa, cada passageiro gastou no ano passado, em média, 130,28 euros na sua passagem pela capital, que, em média, dura dez horas e 12 minutos - mais 40 minutos do que em 2014. A descida verificou-se em todas as componentes da despesa, seja o alojamento (de 178,13 para 165,79 euros), as compras (de 105,30 para 85,85 euros) ou a alimentação (de 45,81 para 33,21 euros. Em 2012 e 2013, a quantia gasta por pessoa fora, ainda assim, mais baixa- respetivamente 118,39 e 97,40 euros.  
 
Belém ganha popularidade  
 
Os números não surpreendem o sócio da empresa que, além de ter dois stands em Belém, tem mais um no Castelo de São Jorge. "O poder de compra dos turistas tem caído", garante Carlos, sem perder de vista os muitos estrangeiros que vão atravessando o túnel que liga a Praça do Império ao Padrão dos Descobrimentos. Apenas os europeus, os norte-americanos e os australianos merecem a sua atenção. "Os asiáticos não compram, só tiram fotografias", justifica. Atrás de si, afixadas na parede, predominam as aguarelas do centro histórico de Lisboa percorrido pelo emblemático elétrico 28, do Mosteiro dos Jerónimos e da Torre de Belém. A escolha não será um acaso.  
 
Tal como nos anos anteriores, os eixos Baixa-Chiado, Bairro Alto- Cais do Sodré e Alfama-Castelo- Mouraria são os três locais da cidade mais visitados pelos turistas que desembarcam na cidade, embora, em 2015, tenham tido precisamente em Belém um concorrente de peso - de 2014 para 2015, a percentagem de estrangeiros que não quiseram deixar de o conhecer aumentou de 68,8% para 81,4%. "Vimos na internet que este era um dos locais a visitar", explica, com o Padrão dos Descobrimentos ali ao lado, Melissa, uma irlandesa de 21 anos a passar férias em Lisboa na companhia de uma amiga da mesma idade. Não viajaram de paquete, estão alojadas no centro histórico e chegaram à capital portuguesa há já uma semana, mas nem por isso deixam de cumprir o roteiro de quem tem mais poder de compra. O elétrico levou-as até Belém, o comboio à praia de Carcavelos, no concelho de Cascais - o mais procurado, o estudo da ATL e da APL, logo a seguir a Lisboa. O terceiro é Sintra. Em 2014, tinham sido visitados, respetivamente, por 14,7% e 6,3% dos turistas em cruzeiro - 28,l% e 13,7% em 2015.  
 
Novos produtos turísticos  
 
"O reforço da diversidade da oferta turística da região de Lisboa, o aprofundamento do relacionamento entre a cidade e a região e a valorização dos ativos turísticos fazem parte da estratégia de promoção turística de Lisboa", recorda ao DN a ATL, salientando que, para que a capital "atinja um novo patamar de excelência turística, é importante desenvolver a visão integrada do turismo na região e desenvolver novos produtos turísticos que aumentem a riqueza e abrangência da oferta turística".  
 
A estratégia é, de resto, apontada como solução para garantir que quem visita a capital pela primeira vez fica com vontade de regressar, outro dos indicadores em queda de 2014 para 2015: enquanto há dois anos mais de 90% dos inquiridos consideraram o seu regresso a Lisboa como provável ou muito provável fora ou em contexto de cruzeiro, em2015 este não foi, respetivamente, além de 75,3%e48,l%. "Os resultados de 2014 foram excecionalmente bons e(...) em 2015 existiu uma grande percentagem de turistas a responder que ainda 'não sabe' (43,5%)", desvaloriza a ATL. Melissa e a amiga não param de tirar fotografias e já se decidiram: vão de certeza voltar a uma cidade que, asseguram, "tem tudo": praia, diversão noturna, história e sol.  
 
RETRATO  
 
Nacionalidade  
 
Cerca de metade dos passageiros entrevistados em 2015 eram naturais do Reino Unido, mais do que no ano anterior (27,4%). Em segundo e terceiro lugares, surgiram os alemães (15,1%) e os italianos (13,8%). Em 2014, representavam, respetivamente, 21,6% e 21% do total.  
 
Ao contrário do que é habitual, os idosos foram o grupo menos representado - de 2014 para 2015, desceu de 21,2% para 2,7%. Os homens tinham sobretudo entre 35 e 44 e as mulheres entre 45 e 54 anos.  
 
Habilitações  
 
Tal como em 2014, metade dos visitantes que desembarcaram em Lisboa possuem pelo menos um grau universitário. Apenas 1,5% ficaram pelo ensino básico. Os reformados perderam peso: desceram de 25,5% para 9,5% num ano.  
 
Companhia  
 
Mais de 90% dos passageiros viajaram, em 2015, acompanhados. Destes, 57,3% fizeram-no com amigos - no ano anterior, o marido/mulher/companheiro(a) surgiam em primeiro lugar. Mais de metade recolheram, de resto, informação sobre o cruzeiro junto de familiares e amigos.  
 
Deslocações em Lisboa  
 
Mais de 37% dos inquiridos visitaram a cidade pelos seus próprios meios. Tal como é habitual, a maioria deslocou-se em autocarros turísticos (54,8%), com os passeios a pé a surgirem em segundo lugar, com 54,1%. Foi a maior subida: em 2014, só 35,2% o tinham feito. No extremo oposto está o metropolitano, cuja utilização voltou a cair, desta vez dos 10% para os 4%.  
 
Mais de 70% dos inquiridos nunca tinham visitado Lisboa.  
 
À semelhança de 2014, em 2015 o pódio foi ocupado pelos eixos Baixa-Chiado, Bairro Alto-Cais do Sodré e Alfama-Castelo-Mouraria. Logo de seguida, surge Belém, que cresceu de 68,8% para 81,4%. Fora do concelho, Cascais e Sintra foram os locais mais visitados. Em média, os turistas estiveram dez horas e 12 minutos em Lisboa, tendo 2,5% dos inquiridos pernoitado na cidade.  
 
Consumo  
 
A alimentação, as compras e as deslocações na cidade foram as despesas efetuadas por uma maior proporção dos visitantes. Em média, cada passageiro deixou 130,28 euros em terra.  
   

Por Inês Banha, in Diário de Notícias

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