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Turismo garante 7,9% do emprego e vai disparar em 2016

Os últimos anos de boom no turismo já se fazem sentir ao nível do emprego. Há mais empresas no setor e o número de postos de trabalho não tem parado de aumentar. No final do ano passado, transportes e turismo eram responsáveis por 363 mil empregos, 7,9% do emprego em Portugal, de acordo com o World Travel & Tourism Council (WTTC).  
 
Em 2016, numa altura em que os players do setor já apontam para um novo ano de recorde, este organismo com mais de 25 anos antevê que o número de pessoas empregadas nesta área possa subir para 441 mil, mais 4,6% do que o registado no ano passado. A contribuição total será, no entanto, bem maior: 915mil empregos suportados por esta indústria - 22% do emprego em Portugal repartido entre agências de viagens, hotéis, empresas de transporte (exceto transporte pendular), companhias aéreas e negócios de lazer e entretenimento para turistas.  
 
"Sempre que a procura aumenta, há necessidade de reforçar equipas. Neste ano, no Algarve por exemplo, os operadores turísticos estão a reservar mais cedo e por mais tempo, indo além de julho e agosto. Isso significa que é possível estender a operação hoteleira, melhorar taxas de ocupação, e dessa forma necessitaremos sempre de contratar pessoas. Por outro lado, permite atenuar a sazonalidade", explicou ao DN/Dinheiro Vivo Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador do grupo Vila Galé.  
 
O Ministério da Economia, contactado pelo DN/Dinheiro Vivo, justificou que ainda não tem dados fechados para o ano de 2015. No entanto, fonte oficial confirmou que o governo está a preparar um agregador em parceria com o Instituto Nacional de Estatística para que as estatísticas do setor do turismo possam ser acompanhadas em tempo real. Informações como o número de pessoas a trabalhar direta e indiretamente nesta indústria também estarão acessíveis.  
 
A estatística do WTTC atravessa 184 países e procura perceber o impacto económico da indústria do turismo e transportes nas várias economias a regiões - por exemplo, G20, aliança do Pacífico ou OCDE onde Portuga] também se insere.  
 
A entidade salienta que o setor está a crescer a um ritmo superior ao das próprias economias há já cinco anos. Segundo a organização, o turismo criou 284 milhões de empregos em todo o mundo e daqui a dez anos suportará 370 milhões. Em Portugal, daqui a dez anos, o setor poderá responder por mais de um milhão de empregos. Portugal é, por isso, o 33.° país onde o turismo e viagens mais pesa para a criação de riqueza. Em 2015, o WTTC estima que o turismo e viagens tenha gerado 11,3 mil milhões de euros para o PIB (6,4% da riqueza). O valor, antecipam, deverá acelerar em 2016 para atingir 14,6 mil milhões, ou seja mais 2,2%.  
 
Os dados são consistentes com as expectativas do setor. Fonte do mercado assume que, depois dos conflitos no Norte da Europa e entre a Ucrânia e a Rússia, Portugal possa beneficiar da instabilidade vivida no Centro da Europa. Também o fluxo de turistas que até aqui procuravam a Turquia poderá começar a olhar para destinos como Portugal ou Espanha, onde o clima é igualmente convidativo.  
 
Esta questão já foi, inclusive, levantada pela associação alemã das agências de viagens (DVR), que admite que Portugal beneficie com a instabilidade vivida na Turquia, onde os alemães são os principais visitantes. Em janeiro, assegura a DVR, as reservas efetuadas para Portugal aumentaram 20%.  
 
Na hotelaria, Gonçalo Rebelo de Almeida antecipa igualmente que "2016 deverá ser bastante positivo" e este otimismo é válido "tanto para o setor do turismo como para o grupo Vila Galé que prevê um crescimento a rondar os 7%". E, a proporcionar este aumento, está a vinda de mais ingleses, irlandeses, alemães, holandeses e franceses. Os que "têm crescido mais", conta ao DN/Dinheiro Vivo.  
 
A acompanhar o crescimento do setor está o investimento que, de acordo com os dados da WTTC, ascendeu a 2,4 mil milhões de euros em Portugal, no ano passado. Isto significa 8,9% do investimento feito em Portugal. Em novembro, o Porto tinha 30 projetos para a hotelaria em fase de licenciamento; a Associação da Hotelaria de Portugal admite que ao longo deste ano possam abrir 29 novos hotéis.  
 
Não são só aberturas. Todos os anos, o setor é obrigado a reabilitações e remodelações. "Neste ano, as remodelações nas nossas unidades representaram um investimento superior a sete milhões de euros. Além disso, estamos a desenvolver o novo Vila Galé Porto Ribeira e o Vila Galé Sintra e, no Brasil, o novo resort em Touros, perto de Natal", conta Gonçalo Rebelo de Almeida que, no pico da crise, prosseguiu uma estratégia de investimento, mesmo "em regiões de menos procura como Évora ou o Douro".  
 
O desenvolvimento do produto e a inovação também têm grande foco no setor. Nos transportes, por exemplo, a TAP leva a cabo uma nova reestruturação de frota tanto na sua companhia principal, a TAP, SA, como na empresa de foco mais regional, a TAP Express - a antiga Portugália Airlines. A TAP vai receber 53 novos aviões, a TAP Express já começou a renovar a sua frota para receber aviões Embraer 190 e ATR 72.  
 
Mesmo assim, Vítor Neto, antigo secretário de Estado do Turismo e presidente da Comissão Organizadora da Bolsa de Turismo de Lisboa (ver entrevista ao lado), considera que hoje "não está a verificar-se mais investimento do que na década anterior. O que aconteceu é que o turismo urbano conheceu um crescimento muito forte", especialmente "Lisboa e Porto que conheceram ritmos de crescimento mais elevados por exemplo que o Algarve".  
 
ENTREVISTA  
 
VÍTOR NETO - Ex-secretário de Estado do Turismo e presidente da BTL  
 
"Não se cresce de qualquer maneira nem o crescimento é imparável"  
 
- A que se deve este aumento repentino de turistas a visitar Portugal?  
 
- O que aconteceu é que o "turismo urbano" conheceu um crescimento muito forte nos últimos anos. Lisboa e Porto conheceram ritmos de crescimento mais elevados, por exemplo, do que o Algarve, que em termos relativos cresceu menos, mas o Algarve mantém a posição de primeiro destino de estrangeiros (37% do total das dormidas) e de nacionais (27%) no alojamento classificado. A promoção e venda online e a ação das companhia low-cost tiveram um papel importante em toda esta evolução.  
 
- Que papel deve ter o governo, o poder legislativo, neste setor?  
 
- O governo tem de ter um papel integrador e coordenador. O turismo é uma atividade que funciona em rede, onde surgem constantemente novas propostas, mas é necessário cuidado para que não haja euforias que podem gerar excesso de oferta e atropelar a legalidade e as regras da concorrência. É importante que o governo legisle com equilíbrio em todas as matérias e problemáticas, caso contrário gera-se o caos e a confusão.  
 
- Ainda há margem para que o turismo cresça em Portugal?  
 
- Há margem para crescer e é importante que haja crescimento. Mas atenção. Não se cresce de qualquer maneira nem o crescimento é imparável! O Algarve que tem uma proposta turística muito especial onde já se verificam quase 13 milhões de dormidas de estrangeiros (só no alojamento classificado) com uma estada de cinco noites, Lisboa, tem uma proposta completamente diferente, com nove milhões de dormidas de estrangeiros e uma estada de 2,6 noites. Os crescimentos terão sempre ritmos diferentes. Devem é ser sustentáveis e não fruto de oportunismos. As regras da economia valem para o turismo. O período de estagnação na década anterior mostra-o bem.  

in Diário de Notícias

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