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Preço dos hotéis subiu 10% em 2017

AHP destaca boa perfomance do setor depois das quebras acentuadas dos anos da crise. Consultora internacional diz que Portugal é o segundo país onde os preços mais sobem.

No ano passado, os turistas deixaram, emmédia,41 milhões de euros por dia na economia portuguesa.  
 
Dos gastos, fizeram parte as compras de luxo e as experiências gastronómicas de estrela Michelin, mas também os hotéis onde as diárias têm subido para acompanhar o maior número de hóspedes, mas os preços médios ainda estão longe de acompanhar os que são cobrados nos grandes destinos turísticos da Europa: nos últimos dez anos valorizaram 33%; só em2017, o aumento foi de 10%, mostram dados recolhidos pela Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) junto dos seus associados. A consultora internacional STR, no entanto, aponta para uma subida mais acentuada-13,2%, a segunda mais elevada do Velho Continente.  
 
"Temos crescido em preços ao mesmo ritmo do setor e é um crescimento completamente equilibrado", afirma Cristina SizaVieira, presidente executiva da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP).  
 
O ano de referência para o setor é o de 2007, o último de estabilidade antes do estalar da crise financeira.  
 
Nesse ano, uma noite num hotel português custava, em média, 66 euros. Com a crise, vieram as perdas e "quedas acentuadas" em todos os indicadores de rentabilidade. Os primeiros sinais da recuperação nacional, em 2014, animaram os preços e, no final de 2016 dormir num hotel português já custava, em média, 80 euros. No final do ano passado, o valor fixou-se em 88 euros. São mais 33% do que em 2007, numa leitura a preços correntes do ARR, average rate room. Se o indicador adotado for o RevPar, que atenta na receita por quarto disponível, o aumento dos últimos dez anos ascende a42% (preços correntes) para os 63 euros. A subida também se acentuou no último ano.  
 
A estimular o aumento dos preços está o aumento da procura turística por mercados que tradicionalmente pagam melhor, como o norte-americano, chinês ou brasileiro, e mostram preferência por hotéis de quatro e cinco estrelas. Mas há um "pico na categoria de duas estrelas", aquele que concorre melhor em preço com os alojamentos locais.  
 
E não é só o turismo vindo de fora que anima os balanços. "Não nos podemos esquecer de que a economia cresceu 2,7% no ano passado, e a maior procura do turismo interno também ajuda", lembra Cristina Siza Vieira, que destaca o contributo do boom turístico de Lisboa, Porto, a solidez da Madeira e o peso do Algarve, sempre esgotado no verão.  
 
"Estamos a crescer sustentadamente em preços, como tem acontecido no resto da Europa", destaca a responsável, para quem os trunfos nacionais são dificilmente comparáveis aos demais europeus.  
 
A STR, consultora internacional que se centra essencialmente em hotéis de quatro e cinco estrelas, fez as contas ao andamento europeu e diz que, em Portugal, a taxa média diária se fixou em 110,36euros, mais 13,2% do que um ano antes. É o segundo maior aumento da Europa, logo atrás da Islândia, onde os preços subiram 17,2%. Em valor real, Portugal fica a meio, com valores mais elevados do que os praticados no Reino Unido (105,27 euros). Os vizinhos mais próximos todos o ultrapassam: em Espanha cobram-se 114,04 euros por noite e operadores como a Tui e a Thomas Cook já "desviam" passageiros para destinos mais baratos; na Grécia cobram-se mais de 119 euros por noite e, em França, a queda de 10% do último ano fixou os preços em 118 euros.  
 
Os hoteleiros admitem que há um longo caminho a percorrer e dizem que o preço não será um entrave ao crescimento do setor. No entanto, os recursos humanos cada vez mais escassos poderão travar a evolução positiva: 'Aparte de serviço é a única que nos pode vir fazer crescer em valor e em preço."  
 
"Só o serviço pode fazer crescer o valor"  
 
O que está a justificar o aumento dos preços na hotelaria?  
 
Felizmente, todos os destinos tiveram crescimentos, uns menos, outros muito mais. Há uma procura muito acentuada no Porto e em Lisboa; a Madeira, em termos de ocupação, é sempre a campeã e o Algarve, na época alta.. Isto é um efeito conjunto.  
 
Sabemos que a ocupação nas quatro e cinco estrelas cresce muito e, depois, verificamos também um crescimento imenso nos preços das unidades de duas estrelas.  
 
É pouco comum. O que está a justificar este movimento?  
 
Tem havido um fenómeno interessante, e eu acho que tem que ver com a abertura das low- -costa outros mercados e, em alguns casos, alguma concorrência aos alojamentos locais, porque as duas estrelas conseguem competir ao nível do preço, embora seja também um efeito de arrasto. Sobe o preço nas cinco estrelas e todos sobem.  
 
Com esta melhoria das tarifas, Portugal já se aproximou um pouco mais da Europa?  
 
A OMT só tem fechados dados de 2016 e, nesse ano, Portugal já tinha crescido um bocadinho e estava a nível de receita na 25.ª posição, o que é já interessante para a nossa dimensão; era 18.° em chegada de turistas; e em termos de despesas internacionais tínhamos subido uma posição para 46.° destino. Mas é evidente que não estamos nos dez primeiros, nem nos 15 primeiros. Nem em entradas, nem em receitas, nem em despesas.  
 
Quais são os grandes desafios a partir de agora? 
Temos tido um crescimento da oferta e de facto estamos com uma escassez imensa de recursos humanos para a hotelaria.  
 
Essa vai ser a pedra-de-toque dos próximos anos. Inclusive para subir preços temos de subir em valor, e o valor é uma antevisão do serviço. Há pessoas que nos procuram, os norte-americanos, e vêm paraa cultura, para a gastronomia, para os vinhos, não vêm para as compras. A parte de serviço é a única que nos pode vir fazer crescer em valor e em preço.

In Diário de Notícias, por Ana Margarida Pinheiro

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