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Hotéis de cinco estrelas a €40 no melhor destino do mundo

Preços Portugal tem nesta altura mais de uma centena de hotéis de categoria superior com quartos a menos de €50. Mas, segundo os hoteleiros, na média anual os preços crescem a dois dígitos e "já não se vende Portugal como destino barato"  
 
Hotéis de cinco estrelas a €40 no melhor destino do mundo  
 
São hotéis portugueses classificados como "ótimos", "soberbos" ou "fabulosos", nas mesmas plataformas que estão a vender os seus quartos na casa dos €30 ou dos €40.  
 
É, sobretudo, no Algarve que é mais notório o fenómeno dos hotéis de quatro e cinco estrelas a praticar nesta altura os preços das antigas pensões. Mas também se verifica em Lisboa, no Porto e um pouco por todo o país.  
 
"Ninguém gosta de vender barato, mas o que comanda o preço é a procura, e janeiro é o mês mais fraco de todos", salienta José Theotónio, presidente executivo do grupo Pestana.  
 
"No Algarve temos de fechar nesta altura cerca de metade dos nossos hotéis e, para manter os outros abertos, às vezes é preciso fazer preços mais baixos, é a lei do mercado."  
 
Mas frisa que o "aumento consistente do preço dos hotéis" tem sido uma das principais conquistas "devido à maior procura por Portugal e à valorização do destino com prémios internacionais". Os hotéis Pestana têm tido aumentos médios de 10% ao ano nos preços desde 2014 e, segundo o presidente do grupo, "é preciso olhar os resultados do ano todo e num destino tão sazonal como o Algarve um quarto que agora custa €40 é dez vezes mais caro em agosto. Os hotéis conseguem as maiores subidas de preço em abril, maio, junho, setembro e outubro, aí é que se nota a sazonalidade a atenuar".  
 
Para José Theotónio, "das 300 mil camas que existem no Algarve, grande parte estão nesta altura fechadas, outras são vendidas muito baratas, mas há hotéis a correr bem, não pode haver generalizações".  
 
No caso da Vila Galé, foi estabelecido um limite de preços, "mesmo em época baixa e no pior dos cenários", que ronda os €70. "Esteja o hotel vazio ou não, há um preço mínimo a partir do qual não baixamos mais, porque entendemos que o produto tem um certo nível de qualidade e não podemos reduzir o seu valor", garante Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador do grupo. "No Algarve as taxas de ocupação andam nesta altura a 30% e muitos hotéis entram no desespero de fazer preços tão baixos. Acho que isso prejudica a imagem do produto, daí não embarcarmos nisso". Mas lembra que "há dois ou três anos havia preços baixos no Algarve o ano inteiro, agora é só nos meses de inverno", e que "os hotéis que aumentaram os preços entre abril e outubro tendencialmente têm a operação mais equilibrada".  
 
"Desde há dois anos que a nossa prioridade não é aumentar a ocupação, e praticamente só estamos a trabalhar para melhorar o preço, com aumentos não inferiores a 7%", garante Miguel Proença, administrador do grupo Hoti Hotéis, que detém 15 hotéis a nível nacional de diferentes marcas (como Melia ou Star Inn). "Temos conseguido subir os preços de forma sistemática, e a nossa surpresa é que em 2017, pela primeira vez, os aumentos mais significativos não foram só em Lisboa e no Porto, mas sobretudo em destinos secundários, como Castelo Branco, Leiria e também Braga".  
 
Aumentar os preços é a vontade de todos os hoteleiros, mas não se consegue só com um estalar de dedos. O administrador da Hoti enfatiza "a enorme dificuldade em subir preço nos hotéis cuja contratação é feita com operadores turísticos tradicionais". E o presidente do grupo Pestana chama a atenção para a "oferta enorme de apartamentos que entraram no mercado no chamado alojamento local, o que também restringe os hotéis que querem subir os preços". Na comparação com outros destinos internacionais, José Theotónio constata que "ainda estamos num patamar de preços inferiores e temos margem para crescer", mas frisa que tem havido melhorias: olhando os concorrentes diretos de cada região - o Algarve e a costa de Espanha, a Madeira e as Canárias, Lisboa e Madrid, Porto e Barcelona -, "os preços portugueses costumavam ser 40% inferiores, e nos últimos três anos reduziu-se para 15% a 20%".  
 
Diárias subiram 10% em 2017 Para a Associação dos Hotéis de Portugal (AHP), "não é de estranhar" haver em janeiro unidades de quatro e cinco estrelas com diárias na casa dos €30, €40 e €50, "sobretudo em destinos de maior sazonalidade como o Algarve, que nesta altura trabalha mais para conseguir taxas de ocupação", conforme salienta Cristina Siza Vieira, presidente executiva da AHP. "Nos anos da crise havia hotéis a €20, e até nos questionávamos como conseguiam manter os custos da operação".  
 
Olhando o quadro geral, os resultados têm sido animadores, e com crescimentos expressivos sobretudo nos meses de procura mais baixa. O preço médio por cada quarto vendido nos hotéis nacionais subiu 10% de janeiro a outubro de 2017, fixando-se nos €90, segundo os últimos dados do AHP Tourism Monitors, um instrumento criado pela associação portuguesa de hotéis para avaliar os resultados mensais do sector e numa análise por sub-regiões. O destino onde os preços mais subiram foi Leiria/Fátima/ Templários, que só no mês de outubro evidenciou um aumento de 47% no rendimento por quarto disponível (RevPar), refletindo o impacto da vinda do Papa Francisco à celebração dos 100 anos das aparições de Nossa Senhora. Além de Fátima, também se destacaram outras zonas menos exploradas do país com os crescimentos mais expressivos, como a Costa Azul (29%) ou as Beiras (26%). Em valores absolutos, no acumulado do ano, o destino que mais se evidenciou foi Lisboa, com um aumento de 16% no preço por quarto vendido, que em média atingiu €108.  
 
"Estamos a conseguir subir preços, não só nos destinos principais e nas grandes cidades mas numa diversidade de regiões nacionais, e continuamos a trabalhar com esse objetivo", adianta Cristina Siza Vieira. "O destino Portugal tem produto e qualidade que justifica uma subida sustentada em termos de preço em 2018". Frisa que "o preço é um trabalho contínuo que tem a ver com muitos fatores, em particular com a notoriedade do destino", e que o facto de Portugal ter conquistado o 'Óscar' de melhor destino do mundo vai funcionar como um argumento de peso. "Independentemente de haver nesta altura de época baixa preços que refletem uma ponderação da distribuição, a tendência aponta para melhores valores. E felizmente Portugal já não é vendido como destino barato", conclui.  
 
LUXO EM SALDO  
 
Portugal tinha 142 hotéis de quatro e cinco estrelas com diárias inferiores a €50 disponíveis na Booking a 9 de janeiro - destacando-se resorts de cinco estrelas com preços na casa dos €40, como o Pestana Vila Sol Golf e o Grand Muthu Oura View Beach Club no Algarve ou o Angra Marina Hotel nos Açores Algarve  
 
A região tinha 53 hotéis de quatro e cinco estrelas a menos de €50 à venda na Booking, destacando-se dezenas de hotéis de quatro estrelas na casa dos €30 (sendo o mais baixo o Alfamar Beach Resort em Albufeira a €29) Lisboa  
 
Eleita o melhor destino do mundo para estadas curtas em 2018, a capital portuguesa tinha 111 hotéis de quatro e cinco estrelas à venda a preços inferiores a €100 na plataforma Expedia a 9 de janeiro - enquanto Madrid tinha aqui uma oferta de 36 unidades, Paris 10 e Londres apenas uma. Apertando a pesquisa para hotéis de categoria superior com diárias até €50, havia 11 unidades disponíveis em Lisboa, uma em Madrid e zero em Paris ou Londres  
 
Preços baixos são um trunfo para não sofrer com o 'Brexit'  
 
É já uma certeza para 2018 o regresso em força da Turquia, onde os operadores turísticos reforçaram este ano a oferta em centenas de milhares de novos lugares de avião. Além da Turquia, também outros destinos afetados há anos por atentados e que têm estado a 'meio gás', como a Tunísia ou o Egito, prometem voltar à primeira linha de interesse dos gigantes de viagens esobretudo britânicos. Segundo o jornal britânico "Independent", esta aposta dos operadores em ressuscitar destinos turbulentos deve-se à desvalorização da libra com o 'Brexit' e ao facto de poderem "fazer mais dinheiro com a operação de viagens nestes países, onde o alojamento é barato". O jornal frisa ainda que "os hotéis em Espanha aumentaram consideravelmente os preços nos últimos anos devido aos problemas na Turquia, Tunísia ou Egito, e por isso não verão aumentos de clientes britânicos" - e que "a Grécia e Portugal continuarão a ser destinos populares junto dos viajantes britânicos porque os preços ainda são baixos, sobretudo em Portugal".  
 
No Algarve, há dezenas de hotéis de quatro estrelas com diárias a €30 e €40. Os hoteleiros alegam que é o pior mês do ano e os mesmos quartos são dez vezes mais caros em agosto Afinal, os preços na Booking são mais caros  
Pesquisa por 30 hotéis em todo o país mostra que o preço por contacto direto é mais barato que nas plataformas de reservas  
 
Telefonar diretamente para os hotéis, como se fazia à moda antiga, pode permitir preços mais baratos do que reservar quartos através de plataformas online como a Booking ou Expedia. Foi o que o Expresso apurou numa pesquisa junto de 30 hotéis em todo o país e com várias categorias de estrelas: no mesmo dia, para alojamentos similares (quartos standard ou com vista de mar) e com idênticas facilidades (inclusão ou não de pequeno-almoço, por exemplo), apenas cinco unidades tinham preços diretos mais caros que na Booking. A maioria oferecia diárias mais baratas (14 casos em 30) em reservas feitas por telefone, com diferenças que chegam aos €40 (ver quadro ao lado), ou iguais (11). Esta análise procurou considerar o que é comparável, e com as ofertas mais económicas dos quartos nesse dia disponíveis tanto ao balcão dos hotéis como nas plataformas.  
 
Além de contrariar a ideia corrente de que é sempre mais barato fazer reservas na Booking ou na Expedia, esta pesquisa permitiu também constatar a diversidade das políticas dos hotéis neste campo: se alguns assumiram que o preço era 10% mais baixo por reserva direta (muitas vezes acrescendo-se descontos sazonais, de cliente frequente ou outros, que nem sequer foram considerados no quadro ao lado), houve casos em que o próprio hotel aconselhou a fazer a reserva via Booking (como o Corpo Santo em Lisboa, que assume ter uma estratégia de venda assente nas plataformas).  
 
Hotéis "não podem ficar reféns da Booking"  
 
O facto de os hotéis terem hoje preços diretos mais baratos que na Booking ou na Expedia é uma pequena revolução - e até há pouco tempo estavam proibidos pelas próprias plataformas de o fazer. A Booking está agora sob observação da União Europeia, depois de há dois anos países como França, Alemanha ou Itália se terem insurgido contra as "cláusulas de paridade" dos seus contratos, impedindo os hotéis de fazerem preços mais baixos até em agências de viagens ou operadores turísticos. Apesar destas exigências terem sido consideradas ilegais, por abuso de poder dominante, a verdade é que as plataformas não veem com bons olhos o facto de os hotéis praticarem preços mais baixos, e fazem um comparativo regular desta situação.  
 
Para os hotéis é uma faca de dois gumes: as plataformas estão a trazer muitos clientes, mas também a engolir uma fatia importante dos proveitos, face às comissões que vão de 15% a 25% dos preços finais.  
 
"A Booking e a Expedia cobram comissões caras, mas são parceiros que nenhum hotel pode dispensar mesmo que queira, até as grandes cadeias", sustenta José Theotónio, presidente executivo do grupo Pestana, onde as vendas nestas plataformas têm um peso médio de 20%. "Se estamos a crescer em mercados onde a marca Pestana não é muito conhecida e onde sozinhos nunca conseguíamos chegar, isso deve-se às plataformas. Onde é que uma empresa com a nossa dimensão tinha capacidade de investir em promoção no mercado chinês?"  
 
Nos hotéis do grupo Hoti as vendas neste canal assumem um peso de 30% a 35%, e segundo o administrador, Miguel Proença "temos interesse em continuar a trabalhar bem com essas plataformas, são um parceiro muitíssimo forte".  
 
'Click2Portugal', a nova plataforma para 2018  
 
"As plataformas são fundamentais para os hotéis, muitos alojamentos sem a Booking nem sequer existiam", reconhece Cristina Siza Vieira, presidente executiva da Associação dos Hotéis de Portugal (AHP), mas frisa haver unidades cujas vendas estão assentes nestas plataformas em mais de 70%. "O ponto é que os hotéis não fiquem reféns da Booking e dependentes de um único canal, mas que tenham uma distribuição saudável e mais equilibrada."  
 
A AHP está a preparar uma plataforma agregadora de toda a oferta nacional de hotéis e alojamentos com serviços turísticos, a 'Click2Portugal', e aguarda luz verde do Turismo de Portugal para a "amarrar ao site VisitPortugal, e assim poder converter os seus 14 milhões de visitantes anuais em venda direta", adianta Cristina Siza Vieira.  
 
O facto de estar em preparação uma plataforma agregadora de todos os hotéis em Portugal "não é de todo uma cruzada contra as plataformas de reservas, muito menos contra a Booking", sublinha a presidente executiva da AHP.  
 
"O objetivo é que os hotéis nacionais comecem a fazer o seu próprio caminho e a conseguir chegar a outros canais de distribuição."

in Expresso, por Conceição Antunes

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