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“Em 2017 vamos ultrapassar os 22 milhões de turistas”

O ano não podia estar a correr melhor aos operadores e hoteleiros nacionais. Depois de um primeiro semestre de forte procura, com mais receitas e melhores tarifas médias, o verão volta a superar as expectativas. Tanto que as previsões estão a ser revistas em alta: este ano, Portugal deverá receber, pelo menos, 22 milhões de turistas, adiantou Ana Mendes Godinho, secretária de Estado do Turismo ao Dinheiro Vivo. “O INE, ao reativar a Conta Satélite do Turismo passou a contabilizar os turistas que ficaram, não só em hotéis, mas também em estabelecimentos de alojamento local, espaço rural e turismo de habitação. Com estes números, no ano passado ultrapassámos os 21 milhões de turistas. Eu diria que, com alguma previsão conservadora, ultrapassaremos os 22 milhões de turistas este ano”, avançou a governante.

Para já, os ventos correm de feição, confirma Cristina Siza Vieira, presidente-executiva da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP). “2016 já foi um ano bom, com uma superação em todos os indicadores dos valores pré-crise. 2017 será o terceiro ano de crescimento, o que permitirá consolidar resultados”. A análise tem por base os dados já conhecidos do Turismo até junho e que “confirmaram as expectativas mais positivas” dos hoteleiros, mas também as reservas feitas para os meses de julho, agosto, setembro e até outubro na hotelaria. Com a época alta ainda por terminar, a AHP confirma que os hotéis estão mais cheios e que os preços pagos pelos turistas são mais elevados. Isto deve-se não só a uma subida dos preços, como também à preferência dos visitantes por alojamentos superiores, que sustentam um crescimento mais acentuado das unidades de quatro e cinco estrelas.

“Prevemos uma ainda melhor saída do verão e um prolongamento do verão pelos meses de setembro e outubro”, diz Cristina Siza Vieira. Com base em dados piloto, de uma ferramenta a que a AHP chama de future monitor, prevê-se uma taxa de ocupação em agosto superior a 75% a nível nacional. Além disso, o mês de setembro no Porto e em Lisboa aponta para vários períodos com mais de 75% de ocupação o que “evidencia um mês muito forte, bem acima do ano passado”. Em outubro, a boa prestação repete-se, com “mais de 50% de ocupação” em vários períodos do mês. Lisboa e Porto têm o maior destaque, mas a responsável admite que o país tem sabido posicionar-se e requalificar-se, o que tem permitido melhorar o preço pago pelos turistas – ainda assim inferior ao praticado por muitas cidades europeias.

É esta qualidade da procura que Ana Mendes Godinho sublinha. “Eu não gosto de falar de número de turistas. O nosso grande objetivo é garantir um aumento das receitas e que temos atividade e procura turística ao longo do ano. Também que conseguimos garantir a procura por mercados de volume, aqueles que gastam mais quando nos visitam”, detalha a secretária de Estado, destacando orgulhosamente que “pela primeira vez estamos a crescer 20% em receitas”. Esta melhor performance financeira faz-se muito à boleia dos brasileiros (+50%), norte-americanos (+40%) e asiáticos onde tem sido feita uma forte promoção do destino Portugal.

“Pela primeira vez estamos a atingir, e de certa forma, a superar, aquele que era o melhor registo de preços que tínhamos; os valores de 2007 e 2008. Depois disso, os hotéis passaram momentos muito complicados, mas agora este crescimento está a permitir retomar valores e valorizar a nossa oferta”, diz Ana Mendes Godinho. A melhoria dos preços é destacada de norte a sul do País. “As tarifas médias têm crescido porque estamos a conseguir captar os turistas que mais nos interessam, isto é, aqueles que estão disponíveis para pagar mais. Mas tem sido uma subida lenta, existindo ainda um diferencial em relação a outros países da Europa”, sublinha Desidério Silva, presidente da Região de Turismo do Algarve (RTA).

Afasta, por isso, as vozes que criticam subidas demasiado elevadas. “No caso específico do Algarve não creio que se corra o risco de matar a galinha dos ovos de ouro, tanto mais que a oferta -para além de crescer em quantidade – tem tido a capacidade de se renovar e modernizar ano após ano”.

Filipe Ortigão Guimarães, diretor executivo da Associação de Turismo do Porto e Norte (ATP) repete: “O facto de a região estar a receber cada vez mais turistas faz com que as unidades venham apostando em melhorar quer as infraestruturas quer os serviços que têm para oferecer ao cliente e, naturalmente, esse upgrade leva, em alguns casos, a um aumento da tarifa média”, disse ao Dinheiro Vivo, lembrando que “esta é uma evolução naturalmente positiva e sabemos que os turistas valorizam este upgrade”.

Em Lisboa, a procura também está a aumentar, fator que levou já a uma revisão em alta das previsões para 2017. Este ano, vão cumprir-se valores previstos, inicialmente, para 2019, conta Vítor Costa, diretor-geral da Associação de Turismo de Lisboa (ATL). “O Turismo em Lisboa está em franco crescimento, com a capital a ser cada vez mais requisitada pelos visitantes estrangeiros”, admite, lembrando que o andamento até agora contabilizado (+30,7% de hóspedes e +30,9% de dormidas até junho) permite antever “mais um ano de grandes resultados”.

Deixa, no entanto, um aviso: “Tal não pode servir como motivo para abrandar o ritmo ou desviar a estratégia, estando a ATL comprometida em continuar a trabalhar na consolidação dos mercados, bem como a investir na melhoria e qualificação do destino”.

Cristina Siza Vieira lembra, por sua vez, que “neste momento em que o setor está numa fase tão positiva é preciso fidelizar clientes” e salienta que, para isso, é necessário saber “contornar os efeitos do brexit e as contrariedades do aeroporto de Lisboa”.

Já Desidério Silva repete os recados.“É fundamental que os turistas voltem aos seus países ou às suas casas e falem bem da região”. Para já, o nível de satisfação varia entre 80% e 90%, “mas não podemos estar descansados, porque sabemos que há turistas que nos visitam por fatores de ordem externa”. Esta tem sido a grande incerteza desta indústria que vale 7% do PIB nacional e que, após uma enorme crise, tem conseguido quebrar os próprios recordes ano após ano. O que acontecerá quando a instabilidade no Mediterrâneo passar e franceses e alemães começarem a regressar aos seus mercados de eleição?

Ana Mendes Godinho desequilibra o tabuleiro: “Fala-se muito que o sucesso da nossa atividade turística se deve aos desvios da procura de outros destinos, mas acho que -número um – é muito injusto para os empresários e operadores que todos os dias trabalham no destino e, – número dois -, há um fator curioso: quer o Egito quer a Turquia estão com uma grande recuperação”, disse a governante, sublinhando que o Egito está com crescimentos na ordem dos 50% e a Turquia de cerca de 20%, “o que significa que mesmo com estes destinos a recuperar, Portugal está a conseguir crescimentos que nunca teve”. Otimismo traz investimento O crescimento do turismo ao longo do ano está a eliminar o fantasma da sazonalidade e a gerar otimismo no setor. E a confiança é sinónima de investimento, lembra Cristina Siza Vieira, da Associação da Hotelaria de Portugal. Pelas contas da AHP, em 2018, são esperados mais 50 hotéis “entre novas aberturas e remodelações”. As novas unidades vão chegar a todas as zonas do País, e fazem parte de um esforço de qualificação da oferta, que tem vindo a intensificar-se ao longo dos últimos dois anos. Com os novos números Portugal receberá bem mais de oito mil novos quartos até final do próximo ano, acima da previsão inicial da associação. Todos os grupos querem beber um pouco desta fonte de crescimento, e aos tradicionais Grupo Pestana, Vila Galé, Turim ou Hoti, somam-se novos projetos pela mão de “pequenas empresas familiares, hoteleiros nacionais e internacionais já com presença no País e também marcas novas”. É o caso, por exemplo, do grupo Meliá, que anunciou ainda no ano passado, a abertura do seu primeiro hotel de cinco estrelas em Portugal, o Meliá Lisboa. O investimento resulta de uma parceria com o fundo Discovery e posiciona-se para um segmento de bleisure (negócios e lazer). Mas está longe de ser o único. O grupo Turim tem previstas quatro novas unidades para o próximo ano – Porto, Sintra, Funchal e Lisboa -; o Vila Galé tem cinco projetos em carteira, entre eles o Convento de São Paulo em Elvas, que é a primeira concessão feita no âmbito do Programa de revitalização do património (Revive), e o grupo Pestana continua a cumprir o plano traçado em 2016 para 20 novos hotéis até 2019; metade deles em solo nacional. O My Story, por sua vez, conta com quatro aberturas previstas para 2018, todas elas na Baixa de Lisboa. E em 2019 haverá outros projetos desta marca que tem como acionista principal o proprietário das sapatarias Seaside, Acácio Teixeira.

A maioria das novas aberturas será de segmento de quatro estrelas, um dos que mais tem crescido ao nível da procura. Mas também haverá novos hotéis de cinco estrelas. No total, no ano passado, contavam-se 1945 unidades hoteleiras em Portugal, a maior parte delas no Algarve e no Norte (22% cada), seguidos da região Centro (21%), Lisboa (15%), Alentejo (8%), Madeira (7%) e Açores (5%), mostra o Atlas da Hotelaria traçado pela Deloitte.

em Dinheiro Vivo, por Ana Margarida Pinheiro

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