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Portugal vai ter mais 8000 quartos até 2018

O novo hotel de cinco estrelas vai abrir já no final do mês, ocupa um quarteirão inteiro no histórico bairro do Cais do Sodré, mas permanece um dos segredos mais bem guardados em Lisboa. Propriedade de uma família portuguesa, o Hotel Corpo Santo envolveu investimentos de €20 milhões, tem 79 quartos e suítes distribuídos por cinco pisos, e a sua obra, onde se reabilitaram três edifícios inteiros, foi condicionada por inúmeros achados arqueológicos — incluindo 32 metros de muralha fernandina — que vão ficar expostos numa área própria do hotel.  
 
“Foi uma surpresa descobrir tanta peça arqueológica e com tanto valor, mas no fundo será isto que nos diferencia, pois vamos disponibilizar às pessoas uma parte da nossa história, que estava escondida, e com um espaço vivo para poderem apreciar ou tirar selfies”, adianta Pedro Pinto, diretor do Hotel Corpo Santo e recém-saído do Altis Belém, onde tinha idênticas funções. O hotel vai ter diárias médias de €250, e mesmo antes da abertura já está com as reservas em alta, prevendo ocupações anuais da ordem dos 20%. “Estamos no centro da cidade, que está numa expansão brutal ao nível de preços. E apesar de todo o serviço, é um hotel descomplexado face aos tradicionais cinco estrelas, e foi todo pensado para o cliente se sentir em casa e ter uma vivência própria de Lisboa, tendo aqui ao lado a Praça do Comércio ou o Mercado da Ribeira”.  
 
O salto de grandes hotéis em 2018  
 
À semelhança do Hotel Corpo Santo, multiplicam-se os casos de hotéis que estão a nascer em Portugal por iniciativa de investidores privados, somando-se aos projetos de grupos hoteleiros consolidados, como Pestana, Vila Galé, Sana ou Hoti, também eles de olho no crescimento turístico e em fase de expansão do portefólio.  
 
Segundo a Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), em 2017 e 2018 irão abrir as portas 83 hotéis no país, envolvendo “construção nova ou reabilitação”, e em cima de um ano profícuo neste campo como foi 2016, em que abriram 33 hotéis. Frisando que a lista “não é exaustiva” e resulta de uma análise feita pela associação, Cristina Siza Vieira, presidente executiva da AHP, adianta que os 41 hotéis previstos para abrir em 2017 irão trazer um acréscimo de 3 mil quartos, e “quando olhamos 2018, em que se preveem 42 novas unidades, já estamos a falar de mais 4600 quartos, o que é brutal”. Tendo em conta as ampliações de unidades no âmbito de projetos de remodelação que também estão a avançar a ritmo acelerado (ver texto ao lado), facilmente se pode falar, e contas feitas por baixo, de mais 8 mil quartos de hotel em Portugal até ao final de 2018.  
 
“É um verdadeiro batalhão de quartos que vai brotar no país, e se 2017 ainda é um pouco o tempo das pequenas unidades, 2018 já será o salto para os grandes hotéis”, salienta Cristina Siza Vieira. “Analisando a dimensão média dos hotéis que estão para abrir, em 2017 anda em torno dos 70 quartos por unidade, mas em 2018 já é quase o dobro, passando para 122 a 130 quartos por unidade.”  
 
A maioria dos novos hotéis serão de quatro estrelas, destacando-se ainda 11 de cinco estrelas esperados em 2018. “O investimento não é cego, e daí o interesse dos investidores por hotéis de quatro estrelas, que são os que apresentaram a melhor performance em termos operacionais e resultados consolidados em 2016 e 2017”, refere a presidente executiva da AHP.  
 
Dos 83 hotéis que estão para abrir até finais de 2018, quase 40% são em Lisboa, a par de 19 na região Porto e Norte, 15 na zona Centro, 7 na Madeira ou 6 no Algarve (onde esta semana foi lançada a primeira pedra do complexo turístico Quinta da Ombria, no concelho de Loulé). Em 2017, já abriram 15 hotéis no país. “Vão nascer muitos hotéis, e mesmo que a procura cresça isto vai trazer desafios ao nível da capacidade de carga, pois estamos a falar sobretudo de Lisboa e do Porto, e de oferta nova no centro das cidades”, frisa Cristina Siza Vieira.  
 
Investidores de olho na Baixa de Lisboa  
 
A zona da Baixa lisboeta é particularmente disputada para investimento hoteleiro. O destaque aqui vai para a cadeia My Story Hotels, cujo principal acionista é o dono das sapatarias Seaside, Acácio Teixeira, que tem projetos em curso no sentido de abrir 330 novos quartos em Lisboa, envolvendo investimentos globais de €50 milhões, e tudo em edifícios reabilitados. Já com hotéis no Rossio e na Rua do Ouro, a My Story Hotels vai abrir mais quatro na Baixa entre este ano e o próximo: o primeiro será o My Story Hotel Tejo no Poço do Borratém (com a ampliação do Hotel Lisboa Tejo em mais 75 quartos) em dezembro, seguindo-se dois hotéis na Rua Augusta e na Praça da Figueira no primeiro semestre de 2018, e um segundo hotel na Rua do Ouro também no próximo ano.  
 
“Dentro da Baixa, gostamos de ter hotéis muito bem localizados em ruas principais ou praças. O conceito passa por manter o património destes prédios e contando as histórias do que aqui aconteceu, dando ao turista uma vivência real do que é Lisboa”, adianta Manuel Goes, diretor da rede.  
 
Para 2019 prevê-se uma nova remessa, com a My Story Hotels já a projetar um segundo hotel na Praça da Figueira, no prédio que era da loja JAO. “Estamos também a desenvolver um projeto junto ao aeroporto, no Prior Velho, no edifício que era a sede da Seaside”, adianta Manuel Goes, frisando que a expansão tem assentado “na reabilitação de imobiliário, e estes prédios na Baixa foram comprados na altura certa”. Sobre futuros projetos, avança que “havemos de chegar fora de Lisboa e faria todo o sentido irmos para o Porto, mas o metro quadrado lá subiu em flecha e não fazemos loucuras”. Na mira da My Story Hotels estão também “Madeira, Algarve e talvez Açores, além de cidades como Évora ou Coimbra. A ideia é ter sempre prédios bem localizados e tendencialmente para reabilitação”.  
 
Em expansão acelerada está também o grupo Turim, dos irmãos Ricardo, Pedro e Rita Martins, que tem obras a decorrer para seis novos hotéis. Já com 10 hotéis em Lisboa, o grupo vai abrir em 2018 um cinco estrelas na Avenida da Liberdade, o Turim Boulevard, além de um hotel na Avenida da República em 2019. Em obras estão também os novos hotéis em Sintra (o Turim Sintra Palace com cinco estrelas, reabilitando o Palácio da Casa das Gandarinhas), e no Funchal (o antigo Hotel Santa Maria no centro histórico, encerrado há dez anos) para abrir em 2018. Contando com o hotel do Porto, que está em construção na Avenida dos Aliados e vai abrir em 2019, os investimentos da Turim ascendem a €70 milhões.  
 
“Também vamos alargar a oferta em Lisboa dos atuais 1000 para 1500 quartos com ampliações dos hotéis existentes”, adianta Ricardo Martins, presidente da Turim. “Não pretendemos ficar por aqui. O Porto é uma cidade que nos fascina, queremos ter lá um segundo hotel e já andamos a ver oportunidades”. Segundo dados da Câmara do Porto avançados ao Expresso, deram entrada este ano cinco processos para reabilitação de unidades hoteleiras, tendo sido já emitidos 14 alvarás para início de construção.  
 
Assumindo uma “aposta forte em Portugal e para levar turismo ao interior”, o grupo Vila Galé está atualmente a construir novos hotéis em localizações tão diversas como Porto, Sintra, Braga, Elvas ou Manteigas. “Estamos a viver uma fase de forte crescimento do grupo, com seis hotéis em curso”, salienta Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador do grupo.  
 
Já em setembro, a Vila Galé vai abrir no Porto o hotel de charme na zona da Ribeira com 60 quartos, decorrendo “a bom ritmo” a obra do hotel em Sintra, para inaugurar em abril de 2018. O grupo está a reabilitar o antigo Hospital de São Marcos em Braga, que irá resultar num hotel com 127 quartos, dois restaurantes, sala de convenções e Spa, a abrir em maio de 2018, e iniciou em julho a obra do hotel em Elvas no Convento de São Paulo (concessionado pelo programa Revive), cuja inauguração está prevista para dezembro de 2018 — estando também a dar gás ao projeto da serra da Estrela, para o hotel poder abrir em Manteigas em novembro de 2017.

 

in Expresso, por Conceição Antunes e Marisa Antunes

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