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Reabilitação tecnológica fará das casas atuais a habitação do futuro

As cidades do futuro serão as cidades de hoje com os seus prédios antigos reabilitados em condições de maior conforto tecnológico, com interconectividade de equipamentos e mais eficiência energética. Esta foi uma das conclusões da conferência “Energia Inteligente conectada à habitação do século XXI”, terceira do ciclo de seis que DN, JN e TSF organizam com a Schneider Electric.

As estimativas são esclarecedoras: segundo estudos oficiais, as necessidades de investimento na reabilitação do parque habitacional português rondam os 38 mil milhões de euros, 9,3 mil milhões respeitando apenas a Lisboa. Se tivermos em conta que o peso da reabilitação urbana na construção anda em torno dos 10% em Portugal, muito abaixo dos 40% da média europeia, é fácil perceber que governos, autarquias e empresas têm as baterias apontadas para esta área. Mas os fundos públicos à disposição não vão além dos três mil milhões de euros.

“Apesar da forte retração do setor da construção desde o início da crise, o setor do imobiliário tem protagonizado um dinamismo nos últimos dois anos que tem puxado pela economia e pela reabilitação urbana.” Mas, como ressalva Hugo Ferreira, presidente da Associação Portuguesa dos Promotores e Investidores Imobiliários, “não tenhamos ilusões, isto deve-se aos investidores estrangeiros”, que estão a comprar, quer para segunda habitação quer para arrendamento de curta duração.

Também por influência desta nova ótica, a do arrendamento para turistas, a preocupação com a eficiência energética e os custos de manutenção estão a ganhar uma importância crescente, concordam os intervenientes na conferência.

 

Não por acaso. Tal como referiu Carlos Duarte, da Schneider Electric, “os edifícios são os maiores consumidores de energia, gastando 53% de toda a energia produzida e, se nada for feito, estima-se que em 2050 essa proporção aumente de forma brutal em 50%”.
A título de exemplo basta referir que, nas nossas casas, os equipamentos de eletrónica e computadores já absorvem 15% dos consumos, prevendo-se que em 2030 a crescente digitalização faça triplicar esse nível de consumo.

Razões de sobra para a Schneider Electric estar empenhada em desenvolver soluções tecnológicas que aumentem a eficiência energética dos edifícios, investindo nessa área uma importante fatia dos cerca de mil milhões de euros canalizados anualmente para Investigação & Desenvolvimento.

A hotelaria é, por exemplo, um dos setores não só em maior crescimento, mas também que mais têm a beneficiar do investimento em sistemas que promovam a eficiência energética, “não só porque alguns estabelecimentos já são antigos, como pelo facto de sofrerem grandes oscilações de ocupação em função da sazonalidade da procura e de não terem os seus sistemas de climatização e iluminação adaptados a essa realidade”, considerou a presidente da Associação de Hotelaria de Portugal, Cristina Siza Vieira.

“O conforto tecnológico é um conceito que é muito atrativo para o turista, e essa experiência começa logo no aeroporto, táxi, hotéis, etc.”, considera Fernando Ferreira, da Schneider Electric.

O Evolution Lisboa Hotel foi um dos casos apontados como exemplo de hotel interativo, que investiu de raiz em sistemas de eficiência energética, em parceria com a Schneider, e que ao fim do primeiro ano de exploração reduziu em 35 mil euros a fatura energética face ao orçamentado, contou o seu diretor técnico, João Carlos Gomes.

“Em regra, o retorno do investimento em eficiência energética acontece entre três a sete anos para uso comercial e em cinco a dez  anos, para fins habitacionais”, observa Carlos Duarte.

Reabilitação urbana, hotelaria e eficiência energética são realidades cada vez mais interligadas, tendo Cristina Siza Vieira sublinhado que “a hotelaria tem sido um grande promotor da reabilitação urbana nos centros históricos das cidades”. E aponta várias razões para tal: “Os edifícios antigos têm mais cachet e existem incentivos fiscais para essa reabilitação.” Por outro lado, lembra que a abertura de um hotel tem um efeito pivô, valorizando a área, fomentando o comércio e criando emprego.

Referindo-se ao crescimento
recorde que se tem assistido na afluência de turistas a Portugal e correspondente abertura de novas unidades hoteleiras, Cristina Siza Vieira indicou que passámos de cerca de sete mil camas em Lisboa em fevereiro de 2011 para 25 729 em abril. O facto de 60% destas camas estarem integradas em hotéis e já 40% pertencerem ao chamado “alojamento local”– que abrange hostels e particulares – “obriga a que tenhamos uma visão estratégica” sob pena de chegarmos a situação de rutura. Porque “os turistas não nos visitam para ver turistas”.

Um alerta é também deixado por Nuno Malheiro, da Focus Group, que considera “um erro” encher a Baixa de Lisboa de hotéis e edifícios apenas com tipologia T0 e T1, para aluguer de curta duração, “porque esta procura não vai ser eterna” e não é com estes apartamentos que se atraem as famílias para o centro das cidades desertificadas. Mas o que é certo é que a procura continua elevada e as taxas de ocupação em níveis recorde.

Carla Aguiar (texto)
 

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